terça-feira, 5 de julho de 2011

Tribunal da Verdade

                                                                                                    "Existirão dias melhores?"



  Maldito dia!

  Sim.
  Maldito dia aquele.

  Eu me entreguei inocentemente a sua nova existência,
  Cai feito novato na experiência de conhecê-la,
  Tive momentos de transcendência,
  Cheguei até a sair de mim e me conduzi até você para lhe contemplar,
  Aumentando um pouco a sua existência, deixando-a digna de algum comentário,
  Alguma coisa que a merecesse ser lembrada, mas isto da minha parte
  Foi apenas um estupro inescrupuloso da minha rasa adoração
  De ser ainda em aprendizado.

  Agora estou aqui chorando colado a parede,
  Humilhando-me com aquele cansaço de trabalhador,
  Fazendo as lágrimas rolarem face abaixo,
  Sem ter alguém que vá me entender,
  Estendendo um braço amigo
  À procura da minha recuperação.

  Quem dera que houvesse alguma lágrima de redenção,
  Mas sequer tenho a fé tão comum de um desesperado
  Que ao ver os remédios à beira de seu leito de hospital
  Jogasse-os bem longe a primeira visão que tivesse daquelas drogas,
  Repleto de sedativos ou aquele quarto tão limpo e bem cuidado
  Por aqueles enfermeiros frios e implorasse pra sair dali dando créditos
  De que iria se restabelecer o mais prontamente possível, mas bem longe dali.

  Ainda não cheguei a essa tal clínica,
  Mas talvez nem precise.

  Será que é realmente necessário esmiuçar esses detalhes na sua frente,
  Por que você mesma sabe que odeio ficar falando de problemas
  Tal como o amputado ao rever fotos suas em que corria, brincava com seus filhos
  Ou mesmo levantava o pé da cama para ir ao banheiro.

  Maldito o dia
  Que a vi tão linda
  E agora dessa beleza inalcançável só tenho a memória esparsa duma beleza
  Devastadora,
  Devastou tudo que havia de belo em mim,
  Do amor virou ódio de repente
  E já nem sei se esse ódio se transmutará em amor
  Tal como no ciclo do eterno-retorno.

  Não havia um espaço sequer para a tão conhecida embriaguez de estupidez
  Da qual os apaixonados experimentam no inicio da relação.
  Eu arrisquei tudo em um imenso olhar e agora existe uma imensidão bem maior
  Que anjo algum poderá me resguardar.

  Eu me perdi,
  Meu corpo continua colado a essa parede fria e
  Não há desejo algum de vingança dentro de mim.

  Maldito daquele que faz de sua desgraça motivo
  Para nutrir vingança pelo próximo.

  Mas me vingaria nos braços de alguma mulher,
  É.
  É exatamente isso.
  Eu não serei debochado ao dizer que agora quero alguém que me recolha ao pé
  Da minha cama, me cubra e ore ao meu lado, pedindo a Deus ou semelhante divindade
  Que se condoa de alma tão afável como a minha em dias comuns.
  Eu quero pra falar a verdade é alguém que me gele o olhar novamente, traga-me o ímpeto
  Masculino que ainda em discretas centelhas se insinua pela torrente quente que jaz em
  Minha caixa lacrimal.
  Eu quero ver estampada a beleza novamente bem perto de mim e, se houver algum recalque
  Pelo meu jeito atirado quando estivermos juntos, que se vá no mesmo minuto.
  Não prostituo o meu amor à troco dos vinténs sexuais de mulher nenhuma, por mais gostosa
  Que esta seja.
  Quero que essa mulher me faça esquecer o nojo que tenho das relações sexuais e, tudo por sua
  Conta.
  Já sinto asco só de pensar na minha sexualidade afetada em seu grau mais pernicioso.
  Todos os meus chacras estão obstruídos, feito pedras em rim de ser em decomposição tanto
  Gástrica quanto espiritual.
  Meus rins espirituais ainda não estão destruídos, não cheguei a este ponto tão ultrajante.
  Mas foi por pouco.
  Foi por tão pouco.
  Só quero um pouco de reconforto, aceito de coração a oração de alguma alma bondosa  
  Em respeito à mim.
  Já povoei a minha solidão de mais com estes espectros do passado.
  Dou-lhe a minha palavra que não irei me isolar entre as pessoas novamente depois que
  Sair dessa fase.
  Não é promessa, nem juramento com mão ao peito e relevante signo no olhar.
  Poupo-me destas imbecilidades.
  Dessas sutis e fúteis encenações.
  Não estou contracenando com palavras de poesia barata de que estou sangrando ou minha alma
  Está sendo inexoravelmente testada por alguma ferramenta de tortura própria para agonizados
  Como eu.
  Sou eu na mais pura e cru realidade que está perdendo a consciência de amar.
  Tornando-me um psicopata.

  Que desgraça ter que chegar a este ponto de loucura banhada no mais puro suor
  Da vergonha.

  Que véu grudento que colocaste em mim.

  Daí eu te pergunto,
  Pra onde se vai toda a poesia que disseste-me que eu tinha de sobra?
  Eu digo que a trama se emaranhou num desfecho agonizante e agora
  Pago o preço sozinho.
  Minhas lágrimas e um punhado de parede.
  Meu muro das lamentações particular.

  Daí eu te pergunto,
  Aonde foi toda a beleza que disseste-me que meu corpo era contemplado?
  Eu digo que a beleza que eu detenho agora se reflete no meu duro olhar
  Ao me olhar no espelho dando lugar para uma inconsequente tristeza e agora
  Pago o preço sozinho.
  Minhas lágrimas e um punhado de  medo do desconhecido.
  Meu vazio que só oculta preocupações particulares.

  Maldito o dia,
  Que começamos a nos amar.
  Tudo ia maravilhosamente bem.
  Eu apenas era igual a você, era digno de sê-lo
  E tive a dignidade de conquistar isso.
  A liberdade de poder transitar pela sua alma.
  Não havia rush ou trânsito parado algum.
  Tudo corria como se estivesse num regato.
  As águas da nossa paixão nós limpava profundamente
  A cada final de dia.

  Era uma oração todo o nosso respeito mantido um pelo outro.

  Maldito dia aquele que então, como em evocação de algum submundo atroz,
  Apareceu aquele outro homem.
  Ele não tinha a capacidade de tira-la dos meus braços,
  Mas a fazia a rir, eu também ria.
  Mal conseguia competir comigo em beleza,
  Apesar dele te atrair também por conta de sua altura,
  Era estupidamente esbelto mas nem por isso Eu
  Não seria capaz de fulmina-lo com minha poesia,
  Com um simples olhar, cheguei a tentar
  Alguns lances de olhar para afasta-lo
  Mas sua presença era magneticamente benfazeja
  Tanto a mim quanto a ela e assim mantínhamos ele por perto,
  Minha maneira doce de trata-la como um ser dócil e sensível era minha principal arma,
  Sabia fazê-la se divertir e eu nem imaginava que tivesse em contrapartida
  O dom de fazê-la chorar.
  Com tal manejo ele conseguiu frutificar a desconfiança e plantou dentro de ti
  O desprezo e a desconsideração.
  Engulo a seco essa indiferença.
  Cumpriu bem seu papel, criatura horrenda.
  Fizeste bem o papel simultâneo de anjo e de demônio frente aquela doce garota.
  Tolice revestida da ingenuidade trágica, por que só assim se explica
  A minha burrice em não tê-lo mandando embora a muito tempo atrás,
  Seria o revide ideal, teria você ainda em meus braços e um inimigo de menos.

  Essas virtudes histéricas
  Impulsionaram-me ao que sou agora,
  Um ser mal amado que já esquenta a parede com lágrimas.
  Uma covardia de menos.
  Você me deixou, assim sendo não há o que temer em alguma provável recaída.
  Já me decaí e agora estatelado ao teto deste tribunal da verdade,
  É que me julgo nesta introspectiva ressuscitação dos fatos
  E qual pena que me cabe?

  Qual pena você acha?
  Minhas fronhas também estão molhadas do meu choro idiota
  Nas altas madrugadas.
  Meu trabalho, meus colegas, minha família nada sabem.
  Nada saberão.
  Mas você, a mulher que tanto procuro,
  Ficará sabendo de tudo isso.
  Quero seu consolo e em troca lhe darei meu corpo,
  Minha sagacidade,
  Minha intelectualidade,
  Minha entrega em toda plenitude.
  Lave-me desse desespero de orações que orei a fundo.
  Ah! Como orei.
  Como de joelhos estive neste altar soberano do meu profundo Eu.
  Orei tanto.
  Orava até as lágrimas me pararem, por que a febre era tamanha.
  Alguém que já orou como eu há de entender.
  Dói a cabeça de tanto se martelar com o passado.
  Espero que meus olhos ainda tenham a esperança duma luz futura
  Que esteja na forma duma mulher.

  Só irei me curar quando superar estes traumas.
  Poderei ver a mulher que passou pela minha vida
  Como uma maneira drástica de ensinar-me
  A oportunidade de se manter um relacionamento.
  Saberei amar de verdade, mas preciso
  Parar o tempo desta inconstância psicossomática
  Que me tolhe o direito tão simples de amar a si próprio.
  Eu imploro que alguém vá comigo,
  Eu irei carregar esta cruz de madeira até alguma fogueira
  De excomungação qualquer e me sentirei bem mais leve,
  Mas até lá um tribunal da verdade em miniatura andará comigo
  Por onde quer que eu vá.

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