sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Antes o Silêncio do Que a Discussão

  Nosso Amor agora fede decomposto,
  A carniça arruinada, o Sol esquenta-lo...
  O mesmo, de seus raios abençoa-lo,
  Por que ris, do choro em cada rosto?


  O silêncio, minh'amada é o oposto,
  Dos vermes viventes, no que foi belo,
  E da entreaberta flor, germina o apelo!
  Nascendo outra fonte, d'um tal desgosto...


  Esconda teu ventre, cubra-o silente,
  Regurgite a ideia, nem idealize me amar,
  Sua morte ou a minha, ainda é eminente.


  Profano, e maldito, d'uma crua torpeza,
  Por que darmos certos, é loucura tentar,
   — Ainda, morreríamos co' plena certeza!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Paixões do Crepúsculo



  Como é belo o Sol erguido no céu sorridente,
  E com sua centelha nos lança seu bom-dia.
  — Bendito aquele que pode com sua alegria
  Felicitar a plenos pulmões o excelso poente.


  Rememoro-me! Eu vi a flor, arrimada na fonte,
  Mirrar sob a fulgência da minha pupila ardida...
  — Vamos admirar ao pôr-do-sol à toda brida,
  P'ra quem sabe abraçar seu raio no horizonte.


  Mas eu insisto em vão em evocar a Paixão,
  A inelutável Noite, acompanhou esta afeição...
  Vultuosa, aziaga, erma de consolo e fulgor.


  Um eflúvio do jazigo pelas trevas emanou,
  E por entre o palude cabisbaixo se dissipou,
  A esperança fugidia, rechaçada pelo langor!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Olhar Sombrio


  Havia reservado o melhor para o final,
  E d'um olhar atilado, símile a violácea
  Presença, revia a parte d'alma vazia...
  Antecipando os nuances da Dor eternal.

  Apontava com a mão p'ra esta miséria:
  — Não hei de orar... Alcançando o umbral!
  Conquanto o réquiem firme e celestial,
  Ressoe inabalável seu canto co' energia.

  A morada era atingida, por entre a canção,
  Sombreada na espera, de tua aparição...
  — Enfim dormiria serena, pelo evo negro.

  Sufraguei enfim, próximo da imensidade;
  — Amor — nossos olhos virão a eternidade,
  E meu canto há de atravessar teu espectro!

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Bem Longe das Despedaçadas Lembranças

   


  As ruas a noite são senão tristes resquícios do que foram durante o dia.
  Porém cada qual sente a necessidade de estar em contato com ela, 
para estar invocando o seu demônio particular. Ainda que uns maldigam-no, ele lá está inerte e atento aos mais leves sussurros que sibilam o que ele está faminto por ouvir. E cada negativa forma de expressão é como um aperto nas correntes que o prende rumo ao cadafalso. Energia essa que se aviva na aura e torna-se um mantra da mais pura índole destrutiva.
  Em movimento, sonhamos, na noite, com uma proposta de mudança, viva e imperfeita, tal como a pressa em vê-la realizada o quanto antes.
  E esse ente demoníaco, a mando de nossa percepção repulsiva do mundo, está sempre ali, e se materializa ao anoitecer em nossa mente.
  Mudam-se os pensamentos, porém a raiz do mal lá está enraizada, plantada a séculos de distância de nossas débeis mãos.
  A herança maldita de nossos antepassados agora nada mais é do que alcunhada por memética. E cada passo é dado em direção a fonte de sofrimento puro, e esse guardião indolente, tem a chave a as fórmulas para ver acontecer a magia em pleno escurecer.
  Mesmo que uns tentem mudar a direção dos olhos, depois que seus desejos são realizados, para disfarçar tamanha brutalidade de seu ego,
a plenipotência evocativa ali está, para regozijo de tal intermediário.
  Lux in tenebris! E se sente uma paliativa sensação de desconforto no estômago. Mas ainda sim, seu sonho foi realizado — o emprego, a satisfação de estar subindo na vida, enfim realizada.
  E tudo é contemplado a luz noturna.
  "Obscura verdade digo a minha alma, tão fria e silente, refletindo na possibilidade de viver nalgum outro canto não tão obscurecido. Quem sabe ao além do Atlântico. Pradarias florescidas ao contorno de condomínios luxuosos, tão perto do centro e da praticidade cosmopolita, saibas que alguém já te aguarda ansiosa em seu novo lar.  
  Te esperará feliz no aeroporto, recebendo-te em prantos, ó doce alma! Retribuas tal abraço comovente e chore nos braços da tua amada... Ela te levará cuidadosamente e tirará tuas roupas, contemplando ainda a beleza vigorosa de tua forma; pura! Intacta! E o leito será a testemunha dos já não sussurros evocativos, sussurrarás apenas de alívio. 
  Ao amanhecer, saberás que um emprego digno, longe de falsidades e de rivalidades mesquinhas o aguarda. Apenas o merecimento lhe será o condutor de tua trajetória.
  A cada dia de trabalho, um novo aprendizado.
  E teus finais de semana serão joviais e brilhantes no verão. No inverno bastarão apenas o calor dela e de seus familiares, tão belos e gentis como ela.
  Em cada estação, tua casa é bela e bem aquecida.
  E a estação da minha alma, qual será? Ela não responde.
  "Impassível continuo. Ela te espera com a receita preferida tua no colo e o gatinho, pulando insaciável depois de uma dose de carinho.   
  Teu espírito se abrandarás só de estares ao lado dela. Sentes o ritmo dessa repetição extasiante?"
  Nenhum gesto, nem se ouve um murmúrio.
  Por acaso ela teria falecido em meus braços?
  "Chegaste ao ponto de letargia, na qual apenas a dolência lhe suscita um brilho merencório no olhar. Se é assim, corramos daqui, minha querida alma! Escolha o itinerário que mais te agrada. Iremos caso não se decidas a ponto, da criatura rastejante tocar teus pés fragilizados e corromper gangrenando-te, para um local ermo e frio. Iremos rir do frio congelante, apenas eu e você! O Sol irá roçar de vez em quando nossos lábios queimados, pela inóspita temperatura. Ela esfriará teus sórdidos desejos de auto-destruição, que por um atro motivo amalgamou-se em ti. Ainda que reveja em clarões ao amanhecer, a aurora trevática, ocasionada pelas priscas chagas desta vil região que agora residimos, tamparei seus olhos, e com o passar do tempo, se acostumará com o despertar banhado num dourado etéreo."
  Enfim, minha alma jorrando sabiamente as palavras que esperava ouvi-la pronunciar, clamou para mim:
  "Não importa aonde seja! Conquanto que seja longe deste mundo e destas despedaçadas lembranças!"
  E se pôs a rir, o luctífero espectro que de perto nos fitava. 

sábado, 26 de novembro de 2011

Cemitério a Beira-mar





  Orla crespa, banhada pelo inquieto oceano,
  Sempre há de mortificar, das vigas aterradas,
  Sem que haja espaço para o temor diáfano,
  Das sepulturas pondo-se às escondidas...


  Vez ou outra se vê, imagens estendidas,
  Terços beijando os epítetos; entorno...
  Mal sentes da reza das vozes esquecidas,
  Lá sepultadas, a queixa dalgum transtorno.


  São, olvidadas almas, pela nívea escuma,
  Segregando segredos, partilhados na morte,
  E ninguém há de sondar, pois algo se abruma...


  Resta ao familiar, fascinado desde séculos,
  Na necrópole marítima, contemplar o combate,
  Travado pelos aflitos dentro dos túmulos...

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Vertigem Cemiterial



  Não confronto-vos, em tua campa,
  És, sabes bem, soturno e indiferente,
  Olhando quieto, a contar cada etapa;
  Meus passos um tanto perseverantes.

  Fito-te assim, trêmulo e descontente,
  Por que da vida, desconhecido mapa,
  Causa-me náusea tatear cegamente,
  Sem saída, pois teu apoio me escapa.

  Ando pelo ruído chão por ti pisado...
  Ciente dos mortos, a fazer companhia,
  A nossos espíritos, incompreendidos.

  Balouça as tristânias, a nós aspérrimas...
  Já não está só, nessa senda solitária,
  A nossas duas almas, tão nigérrimas.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Que Me Perdoem os Fracos de Espírito

  Eu não vejo um poeta como uma máquina de fazer versos.
  Vejo-o como um ser humano, passível, bem sei, de contradições, 
  porém dotado de uma enorme capacidade de versificar o mundo.
  Traduzindo este mundo e doando as palavras de seu dicionário 
  poético, aos que sentem fome de conhecimento.
  É verdade que a fome pode ser um estado, muitas vezes, perigoso, e 
  que requer pra se lidar toda sabedoria da qual se disponha.


                                            * * * 
  Eu não vejo das religiões, nem tampouco das verdades, nelas 
  pregadas como a fonte de minha índole.
  Já ajoelhei em altares católicos, provei de sua hóstia e benzi-me na   
  água fazendo o sinal da cruz.
  Mas em missas, meu corpo estático e dormente, boceja.
  A vida em mim pulsa e meu olhar não é dirigido ao padre.
  Flui de mim, o espanto, a inocência pagã...
  Mas que se enoja por vezes de certos ritos e práticas.
  Já abracei o Pai de Santo, fazendo dele no passe, sentir trêmitos ao 
  realizar o que chamam de descarrego. Não escondo que não pude
  deixar de esboçar um sorriso de vergonha.
  O magnetismo prepondera nas explicações espíritas.
  Douta filosofia. Falta-lhes o preparo. Falta-lhes o diploma carimbado
  da comunidade científica. De resto, achismos e processos, por mais
  empíricos que pareçam ser — são apenas restos, que tendem a se
  decompor e renascerem em mentes mais lúcidas, como ideias à 
  serviço da humanidade.
  Budistas e seus retiros espirituais, repetem entoando pacificamente
  muitas inverdades em sutras & mantras.
  Porém um preceito sábio, pela qual sigo, é o do corpo ser um templo.
  Que deve ser limpo diariamente ao raiar do dia.
  O meu despertar, é o alvorecer duma nova vida renascida.
  Poeticamente falando, — alvorecer d'esperança.


  Eu não acho que deva existir um motivo pra se acreditar ou não em 
  algo que não mude sua vida(pra melhor).
  O viático é o caminho daqueles que tem arvorado a esperança,
  o desejo do nervosismo e posteriormente d'angústia, chamada
  nesses tempos de depressão.
  Mas não sou católico.
  Nem sou teísta.
  Agnóstico tampouco.
  Nem quero ser chamado de ateu.
  Não defendo nem prepondero inclinações ao ateísmo.
  O que sou?
  Hoje, só hoje. Não importa o que eu seja.
  Deus — caminho definido da Ciência.
  Um dia hão de enterrar-te ou de descobrirem o ataúde que vós estás
  escondido.
  A centelha que habita em nossas almas irá brilhar num clarão— na 
  hora de vossa descoberta, ou quem sabe algum controle remoto há 
  de desliga-las em definitivo.
  Até lá caminho e trabalho...
  Sim! O trabalho, talvez respaldado pelos estudos, seja além da família
  e do sexo, a coisa que realmente seja digna de se conquistar e 
  praticar — pois quando aprimorada estas coisas, o mundo verte 
  aplausos admirados em reconhecimento.
   
                                           * * *
  A criança esquelética que nada o mar de seu continente natal até
  atingir em braçadas de desespero por um prato de comida o outro,
  é recompensada pelo calor e a toalha da turista espantada.
  Por fim, come o que lhe dão pela frente.
  Mordendo os dedos, junto a pedaços esfarelados do alimento.
  É assim a nossa alma em busca de conhecimento.
  Às vezes destroçamos com os dentes, aquilo que era pra ser 
  degustado.
  A poesia...
  Maldito será o dia em que eu destroçar a poesia que vive em mim.
  E que eu jamais esqueça que a Morte, é o que nos aguarda.
  Muitos fazem dela apenas simbologia, criam modas, conceitos 
  absurdos...
  Traduzem-na pela cor preta.
  Mas o anjo que porta a sua chegada vem de branco.
  Interessante dualismo...
  Para combatê-la criaram a criogenia, certos de um dia alcançarem o
  prolongamento vital do corpo humano.
  Enquanto isso, a medicina tem livre aval para realizar seus testes
  em cobaias. Transplantam cérebros em cachorros, vertem, modificam
  artérias, DNA's. Uma série infinda de técnicas alienadas.
  Julgar-te-ão louco. "São apenas testes". Ah! Sim.
  Quando criança os bichos pela qual corria, inocentemente,
  agora são junto ao caldo temperado, comida que se engole.
  Matança, mortandade, morte, morticínio...
  Matança, matança, matança...
  Rumo a um matadouro animais são sacrificados.
  Um holocausto em nome a boa-alimentação.
  Os gourmets agradecem.
  Gera uma cifra considerável a pecuária.
  Matança, matança, matança... 
  Engaja-se na poesia, garoto maquiado — ri o milionário dono
  de frigorífico.
  "E já que és ousado o bastante pra achar que pode mudar o mundo, 
  sem sequer ter formação acadêmica em nutrição, ou cousa que o 
  valha, devolva este seu coturno — é de couro, se esqueceu?
  Ou que espécie de gótico você é pra se rotular vegetariano e usar
  objetos de origem animal?"
  — Não sou gótico. Quanto a maquiagem, foi apenas pra festa à 
  convite da sua filha.
  Saibam que ela morreria de vergonha ao saber o pai que tem.


                                             * * *
  O Amor — fonte responsável por nos preencher e fazer da 
  complacência, transformar-se em reconhecimento mútuo.
  Pois que as pessoas se suportam, seja no ambiente de trabalho,
  em casa, junto as memórias(o que é bem mais difícil de se lidar)
  de algum falecido — por complacência. E esta tende a um dia
  esvanecer.
  Já o Amor, este não. Só se intensifica com o passar do tempo.
  E o reconhecimento verdadeiro é o reflexo de sua existência.
  Com franqueza...
  Abomino muitas coisas.
  Sentimento este que necessito expurgar de dentro de mim.
  Abomino saber que vou envelhecer, a decrepitude é assaz 
  horripilante. O corpo de um ancião me causa náusea.
  Verdade que o convívio com os nossos avôs ajudou-me
  em partes nisso.
  Mas é só uma forma de mostrar como eu sou.
  A beleza há de sempre existir, pois que, quando nascida da nossa
  verdadeira natureza, seja esta exteriorizada como contemplativa
  e totalmente imprópria para ação, no entanto, de uma forma 
  misteriosa e ignorada, age de uma maneira celeremente rápida, da 
  qual ela mesmo não sabia julgar-se capaz.
  É assim com o Amor também, num brilho rápido o vemos.
  Eu vejo no Amor pela minha família, pela mulher que amo, pelos 
  amigos e por tudo aquilo que gosto de fazer.
  Ainda sim...
  Devo praticar pra que eu possa ver sempre em no máximo de coisas
  possíveis esse brilho.
  Às vezes parece isso acontecer.
  Mas tenho a poesia.
  Utilizarei-me dela para atingir este nobre fim.
  Meus olhos hão de brilhar eternamente então.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Compreendendo a Morte

  


  Absorto, langoroso, resvalo na sepultura,
   d'uma campa pétrea e fria...
  Sombreada pela abandonada incompreensão.
   Ali o Amor jaz co'a graça valedoura.
  E eu te entendo, o que o teu silente zéfiro
   quer me dizer, sussurrante...
  Estou fadado há tempos, e eu queria dizer;
   com vigor pressionar-me a estertorar tal abafo;
  impronunciável... incontível...
   Ainda sim, não enerva-me estar nesta lápide,
  sentado, sentindo a tua afável presença,
   e numa união d'almas, lês meus pensamentos,
  sabes d'um jeito ou doutro, que sinto tua Dor.
   O tamanho desta não findou co'a pira funerária,
  apenas amalgamou-se em minha pele lúrida.
   Tua existência, esta que renasce novamente,
  sem tremura, me quedo, a sentir seu contato.
   O gosto amargo na garganta engulo lentamente,
  pois sei que por teu invite, provarei na Morte
   um sabor melhor, que a Vida me privou.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O Bebê Natimorto




  Ainda como feto, exprime a perda,
  Pérfida a espalhar esta indecência,
  Enviando fotos da criança perdida,
  Supõe assim, enganar a sua família.


  Teu útero é estéril; nada se procria,
  Nem do tratamento, em ti se hóspeda...
  Mas deveria saber por experiência,
  A — Verdade — é a única fonte leda.


  Como esconder o frustante fato...
  Sabendo, que a ganância é presente,
  Como um dom, em todos seus atos?


  O vazio, e um coração não batido,
  Provocado pelo logro, degradante...
  D'um findo bebê — jamais nascido. —

sábado, 19 de novembro de 2011

Conspurcação




  Por que conspurcar sua virgindade,
  Se ainda temos muito que nos amar?
  E tantas são as formas de intimidade,
  Tanto do denodo, para a ti devotar.


  O leito arrumado, do edredão a revelar,
  Marcas apaixonadas de tua castidade;
  Intacta — pois apenas quis lhe tocar,
  Serenando o choro d'uma profundidade...


  Meu corpo treme, indo 'té a cabeceira,
  Releio o salmo, sussurrando os versos,
  Enquanto dormes — pela luz clara...


  O abajur, eu apago, e afago a tua mão,
  Guardando na memória — santos textos,
  E peço a Deus, a abençoar nossa união.
  

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Memento Mori

                                                   


                                                        "Agracie-se leitor,
                           com esta pérola encontrada nalgum imundo abisso"


  Felipe Valle
  *05.07.1990
  †...............


  Nasce-se sobre um olhar altiplano,
  E rosas negras pairam insinuantes,
  Suavizando ou irando o morbígeno;
  Desejo dos fracassos resultantes.

  Eu — que sou um mero praticante —
  No caminho, andando entre humanos...
  Tenho das intuitivas vidas prementes;
  Passagem por entre todos terrenos.

  Momentos antes, a Morte por acaso,
  Seria-te degradante. Feita de fel,
  Verbo de última palavra sem atraso.

  Pois a mim — é o que nos une a vida —
  Mensageira fiel desse vasto céu...
  Co'a pedra tumular que vos aguarda.


   Epígrafe:
  "A verdadeira filosofia nada mais é o que estudo da morte."
                                                            - Isaac Newton

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Prostíbulo

  


  Musa venal, amada por mim a noute,
  Chegas calada a por o peso no estrado,
  P'ra mais comigo um serão mal dormido;
  Realizar meu desejo, tirando teu corpete.


  Alijo a camisa, e o paletó todo desbotado,
  E acaricio tua face de luz deslumbrante.
  Estamos à sós no leito por mim aquecido,
  E dou-te em troca u'a quantia insinuante.


  A apetite crua se mistura co'a tristura,
  De fatigares e seres possuída adulando;
  O corpo vigoroso que prova tua frescura;


  Ou um estroina, a saciar-te a diária fome,
  Sugando teu propenso leite, e ocultando;
  A face sombria, e malquista d'um síndrome. 

domingo, 13 de novembro de 2011

Possessão



  Minai a resistência ao corpo perene,
  — Entrego-me ao guia, filho amado.
  Surpreendo-me ao compasso infrene,
  — Tão incerto, o aspecto desfigurado.


  Oferece-me seu abraço e canto ritmado.
  Recuo: — Deixe-a, imploro! E indene
  Lê meu pensamento: "—Sou pois odiado,
  Mas não é sua mãe, e sim um unígene."


  Um elo duplo naquela que me geraste,
  A escuma molda em minha face rendida,
  E o grito do desespero, rui de desgaste.


  Sem piedade, arrojo ao chão agoirento,
  Balbuciando meu ateísmo vão em decaída.
  E a médium: — "A ciência não traz alento!"

Palco da Mentira

  
  
  O que Eu tenho agora a perder?  
  Sendo pessimista, propus mudança;
  Furtivamente fugindo e nem ver;
  — D'história encenada desde criança.


  Quero correr, sem deixar reviver...
  Aquilo pungente A corroer a lembrança!
  Num rogo abafado, torno-te a ver...
  Plácida, ereta: a me inspirar confiança.


  Mas mudam-se os atores, e permaneço.
  Inerte junto as esquálidas recordações...
  Ai! O fardo brota, d'um simples abraço.


  Recuso um falso aperto de mão dela.
  E a mãe das necessidades são provações;
  Encenadas n'agonia, vividas com cautela.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Donde Retiro as Minhas Forças

  Arrojo-me na vida diária, no labor;
  Donde possar dar-me, o manejo...
  Dessa arte embora, Eu veja o vapor;
  Apenas entre a largura d'um lampejo.

  Longe da fortitude — a Morte de sobejo
  Ultrapassa o obstáculo, na faina maior;
  E Eu caminho, sem escutar os motejos.
  Que rufam trechos de negrume e temor.

  — Dores ocultas s'escondem caladas,
  Nesta terra alheia, repleta de ciladas...
  Conluio é o que s'encontra nesta vida.

  Por isso, persevero silente numa prece,
  Co'a cabeça erguida, e a ideia se tece;
  Do alento irresoluto: "À me dar guarida."

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Do Nada o Indigesto se Cria

  Abaixe o seu tom de voz,
  que das bestas mal-paridas,
  e idólatras por sua vez;

  Corrompem-nos como algoz;
  e veremos-nas renascidas.
  A escorrer mágoas no algeroz.

  É assim a vida feita de — Dor —
 
  Tragando o que tentar se impor.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Propenso a Te Amar


Seduzido fui pela tua música,
quantas vezes quis ouvi-la...
Em horas tão sem lógica.

É que Eu andava compungido,
e agora — Eu posso ama-la...
em seu Amor fui convertido.

Nesse desejo a me purificar;

Pois estou propenso a te amar.

Surpresa Entediante




Tenho na surpresa entendiante,
tua presença já inquietante...
a me deixar inseguro e inquieto.

E desse entusiasmo enervante,
teu ser se torna mero figurante;
numa manifestação de ímpeto.

Queria eu bocejar desapercebido...

Mas percebo já estar apaixonado.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Lápide Onde Jazem Meus Sonhos


  Adiante, pelas noutes, medonhas,
  — Já não ensejo, a vaga d'um coval —
  Mesmo no amanhecer, as vicunhas;
  Sejam o pano com seu torcer bestial.


  As traças que por ali retorcidas roerem,
  Tanto meu corpo, quanto as sobras,
  De meu cadáver, hão de todas morrerem.
  Pois é d'um letal legado minhas cinzas.


  E da cabeça que inda, era inocente,
  Nos tempos de cândida ventura... beleza,
  Alegria que de tão bela jorrou dormente;


  Nada mais são agora; simples lembranças,
  Entre a carcaça pútrida e a pulcra rijeza,
  Enterradas co'a alma sem-aventurança.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Obstinação

  Os areais são p'ra mim como u'a fonte,
  De segredos enterrados e instigantes...
  E as vontades que atolam degradantes,
  Também debatem-se negras defronte.


  D'uma movediça sepultura tumultuosa,
  Odeio o retrato que jaz da minh'alma!
  Envolta numa amargura que nem clama;
  Além da risada que sai d'areia pressurosa.


  Pudera acreditar da escuridão soterrada,
  Vindo abraçar-me com toda sua perdição...
  E fazer-me esquecer da paixão declarada.


  Eu te amaria novamente e aterraria o choro,
  A raiva e o espanto, e a imémore realização
  Dessa procura— que s'esvai por cada poro.

Ornamental




Seus frutos, contidos numa estaca,
Ao sabor do cordame o submete —
Ficando colados um a um os tomates,
Como se assim 'tivessem de ressaca.

Procurando abrigo d'antes a saca;
Que trouxera a planta-los as sementes.
E nasceram naquela sala tão somente,
Ornando co'a singela e natural laca.

E apesar do aparente aprisionamento;
Sentem-se livres, porém são frágeis.
E requerem cuidado, a zelar seu fruto.

Como resplandecer então no vitral?
Resta, tecerem intentos maleáveis.
Desde o pericarpo 'té seu sabor carnal.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Tu És em Meus Dias Um Eterno Verão

                                                                               
  Eu devo te comparar a um dia de verão?
  Sabendo que és mais linda e temperada.
  E os ventos ásperos em maio se agitarão,
  Buscando na curta data do verão estada.


  E num dia quente os seus olhos brilham,
  E às vezes a sua tez é de ouro esmaecido;
  E do curso das coisas um dia se declinam,
  Por que, faz parte do caminho percorrido.


  Mas o teu eterno verão não irá se apagar,
  Nem perder a posse daquele que te adora,
  Nem a morte se envaidecer e te assombrar.


  Quando as linhas eternas crescerem em ti,
  Fazendo a todos te olharem como a Aurora,
  Eternamente e, isso renascerá dentro de si.

domingo, 23 de outubro de 2011

O Brilho Evangélico das Estrelas





  Estrelas brilhantes, amarelas, paradas pelo ar,
  Vocês viram os fios de cabelo dela a esvoaçar?
  Lembrando véu de nuvem que se vai ao além,
  Caído pelo rosto dela e sobre o céu também?


  Estrelas radiantes, pequenas, estes olhinhos,
  Olhos de anjos brincando no céu tão sozinhos.
  Às vezes um anjinho vira o seu rostinho alegre,
  Em direção ao mundo- mais do que um milagre!


  Jesus Cristo veio da cruz(Ele recebe a mi'alma!)
  Em cada mão e pé aberto sangrava a sua chama.
  Quatro pontas de ferro, porventura Ele morreu,
  Mas você arrancou e as colocou à brilhar no céu.


  Tropa de Cristo, da guarda de Maria; obedecem,
  Desenhem espadas e no inferno o mal ataquem.
  Cada centelha nascida do aço voa pela batalha,
  E Deus à guiar as faces cintilantes d'uma estrela.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Um Estudo d'Alma

                                   
                                           "Queria tanto que tudo voltasse a ser
                                            como era antes"
                                           - Lágrimas vertidas em palavras por quem
                                            teceu estes versos.


                                                                             À quem "você" já foi um dia.






  Ela ficou pálida como a Parian ficava;
  Como Cleópatra quando se viu na baía,
  E sentiu a força romana e sua influência,
  Feito víbora contorcida diante da lava.


  Seus pés firmes, pelo caminho qu'amava,
  Vislumbrando para ao além da luz do dia;
  Seu rosto 'tá firme olhando a terra sombria,
  Na onde pés trêmulos pela areia vacilava.


  Ela 'tá ali como um farol brilhante à noite;
  Tão claro onde a tempestade se põe à deriva.
  Tão sozinha, d'uma maravilha mortalmente.


  Ela espera paciente, com um poder interior,
  Sem tentar domina-la e torna-la u'a cativa,
  Com um rosto luzidio e a gemer em estridor.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Do Notório ao Notável

  Eu moro no 5º andar de um prédio
  De uma rua calma,
  Sempre costumo olhar o que se passa
  Lá embaixo.
  Dentre árvores e galhos secos
  Do outono,
  Em que germinam novas vidas
  Que irão prevalecer sobre essa camada
  De vida gasta e disposta a dar passagem
  Para o que realmente deseja viver aqui.

  É quando vejo atravessando
  A passadas serenas o meu amigo Meister,
  Tendo em suas mãos um embrulho,
  Pequeno e que ele sacoleja.

  Atravessa a guarita, dá um oi rápido
  Pro zelador e entra no saguão.
  Aí o perco de vista,
  Deve estar tocando levemente
  O botão do elevador
  E olhando de soslaio
  Pra alguém que possa estar
  Saindo da porta que dá acesso
  Ao estacionamento.
  Esses dias mesmo eu o peguei
  Na piscina conversando
  Com uma garota que estava
  Tentando tomar um bronze
  Numa cadeira de praia.

  Ele é realmente um cara extrovertido.

  Sobe rapidamente
  Os cinco andares do meu prédio
  E lá está ele tocando
  Na minha porta,
  Esperando para que eu a abra
  E que nós dois juntos
  Tenhamos muito trabalho a fazer juntos.
  Não escondo a curiosidade
  Para saber o que tem dentro daquele embrulho
  E ele sem cerimônia alguma,
  Abre na minha frente uma parte
  E diz;
  "Só vim aqui pra entregar-lhe
  Isso, se cuida irmão e logo mais
  Estarei de volta."

  Ele não estando mais ali,
  Sozinho e com o pacote
  Em minhas mãos,
  Pego a xícara de café
  Que milagrosamente
  Tomo
  E me sento na poltrona,
  Abrindo por inteiro aquele pacotinho.

  Tem um rádio portátil.

  Eu sem sono,
  Já passam das cinco da tarde
  De um sábado nublado,
  Sozinho mais uma vez em casa,
  Com uma sensação de tristeza
  E com um aparelho tão obsoleto
  Como aquele em mãos
  Que me trazem velhas recordações,
  Que me fazem mirar o olhar
  Para um canto vazio de casa
  Tendo em vista
  O esquecimento.

  Rádio esse
  Que me faz recordar
  Daquele velho rádio
  Que eu constantemente
  Quando estava em casa com meus pais
  Tocava, girava o botão
  Do volume para um volume
  Que me trouxesse uma satisfação
  Aos ouvidos que queriam um bom rock
  Pautado por aquela voz que me tocasse
  Lá no fundo. Bem no recôndito do
  Âmago.
  Mas agora...
  Bem,
  Tenho o meu I-Phone,
  Lotado de I-Tunes,
  Um bom fone de ouvido
  Ou mesmo o som que se não muito elevado
  Satisfaça a mim e ao conforto
  Que não irá incomodar os vizinhos.
  É isso que me deixa pensativo.
  Essa sensação de não poder mais
  Sentir a textura daqueles botões,
  Nem dos botões do controle remoto
  Que mantinham o ritmo da minha
  Intensa vontade
  De ouvir uma boa música.
  Agora ouço essa mesma música,
  Essa mesma voz,
  Essa mesma banda,
  Através do meu sofisticado
  Aparelhinho.
  Mas essa mesma música agora
  Ouvida através desse aparelhinho
  Só me dá a sensação
  De esquecimento.

  Dois dos meus dedos
  Da mão esquerda percorrem
  Os poucos botões que existem
  Naquele pequeno rádio.

  Quero botar logo
  Aquilo pra funcionar,
  Botar o rock n' roll no volume 18.
  Aí sim, estarei sabendo o que realmente
  Se passa com esse aparelho.
  A acústica de casa deve segurar
  O que ele tem pra me dizer
  Sem promover nenhum segredo
  Confidenciado a quem quer que seja.

  Não sei,
  Mas as vidraças não são mais
  Como antigamente,
  Elas são mais resistentes hoje em dia.
  Num acesso de fúria
  Não se pode jogar o rádio pela janela,
  Além do que isso daria
  O que falar entre os vizinhos,
  Isso daria uma bela duma multa,
  Isso me daria a sensação de dever não cumprido,
  Me daria uma sensação de coisa que se impôs
  E te chamou pra briga,
  Acirrou a situação a ponto de fazê-lo entrar
  Pro combate
  Ou fugir qual covarde que resolve as coisas
  Na pancada e lhe dar aquela velha sensação
  De pai impotente depois duma boa surra
  Na filha mais nova de que
  "Sair na mão nada resolve."

  É bom que eu nunca tenha sido educado
  Dessa maneira mesmo.
  Mas não fingirei que não me passou
  Pela cabeça, quando lia quem realmente
  Fazia e acontecia,
  Pensavam e exteriorizavam
  No limiar da sua indagação existencial
  Dessa forma.

  Barba branca nenhuma vai lhe dar a falsa
  Proteção.
  O hábito não faz o monge, já diz
  A sabedoria popular.
  É um aforismo que não quer calar mesmo.
  Deviam esconder o chapéu naqueles tempos
  Bem fundo ao rosto
  Qual avestruz que se esconde feito
  Moça envergonhada
  Bem no fundo da terra.

  É de envelhecer a alma pensar assim.

  Por isso deixo de lado.
  Depois escuto ele um pouco
  Ao pé da cama,
  Junto com o despertador matinal.

  Caminho até a cozinha.
  Pego dos armários uma embalagem
  De pipoca que inevitavelmente
  Será feita no microondas.
  Que saudade daquela pipoca que fazia
  Na panela.
  Ficava absorto naqueles instantes
  Intermináveis
  De ouvir o barulho da água se evaporando
  De dentro do milho e aquele ploc mágico
  Que me deixava na vontade de pegar
  O tempero,
  Botar algumas pitadas de sal
  E levar num tapuer da sua cor preferida
  E assistirmos a um filme.
  Agora esse sofá que tenho em casa
  Já não é mais aquele sofá de canto
  Que tinha na casa dos meus pais.
  Esse é menor.
  Mas acho bonito o acabamento
  Dele e a forma como ele combina
  Com a poltrona.
  Só de ficar nessa poesia doméstica
  Me traz um déjà-vu.
  Dá vontade de que você estivesse aqui
  Novamente
  E que as coisas fossem como eram antes,
  Que eu pudesse correr ao redor
  Da mesa da sala de jantar
  E que você já cansada fosse se apoiar
  Na cadeira.
  Eu te jogaria no chão como daquelas
  Vezes
  E você rendida
  Rolaria comigo pelo tapete
  De braços estendidos
  Esperando que eu lhe ofertasse
  Beijos, mordidas na orelha,
  Carícias um pouco maliciosas
  E apaixonadas pelo pescoço.
  Tapinhas levados de garoto esperto,
  Sábio da sua sortuda oportunidade.
  E agora caminhando por este
  Apartamento
  Só me traz a sensação
  De ficar rememorando
  Aquilo que eu quero
  Que se torne
  Um esquecimento.

  Eu sinto vontade de ir
  Ao banheiro,
  Vejo-o todo branco
  E me lembro
  Das mãos cansadas e fatigadas
  Da empregada
  Que o limpou pela manhã.
  Não é brincadeira limpar
  Esse apartamento todo
  E depois ter que cuidar da casa
  Filhos, lavar,
  Passar roupa,
  Limpar os ladrilhos,
  Levar o lixo,
  Ser mãe,
  Ser uma companhia agradável
  Para o marido.
  Que vontade tenho de na próxima
  Vez que vê-la beijar
  Aquelas mãos perfumadas
  Com aquele cloro insosso
  Que a vida colocou nela.
  Unhas mal-pintadas
  Porém bem lixadas.
  Cabelo desalinhado,
  Porém corpo
  Ágil,
  Leve,
  Um tanto torto
  De tanto se esgueirar pelos cantos
  À procura do pó tão comum.

  Essa tenacidade
  Que me deixa perplexo às vezes.
  Saber das mazelas pelo meu I-Pad,
  Do que realmente faço agora
  Trancafiado
  Aqui
  Quase sendo comparado
  A Kant,
  Que mal tinha tesão de sair da própria cidade
  E divergia à respeito do que lhe convinha
  Com a maior naturalidade e considerações
  Acadêmicas possíveis.

  Eu entredentes digo,
  Com pedaços daquela pipoca
  Que tem mesmo que artificialmente
  Um delicioso sabor de queijo
  Por entre os dentes,
  Quem esse cara acha que pode enganar?
  É agradável saber que enquanto uns morrem
  Outros nascem já com seus dias contados,
  Num b.o. duma d.p. qualquer
  Com a mãe desesperada
  Ou mesmo morta,
  Cheio de frieza
  Ou com uns pingos de remorso
  Beirando o copo do destino
  Pelo olhar.

  O verdadeiro drama se passa lá fora,
  Depois que o jornal do vizinho
  Do andar de baixo é recebido
  E folheado por aquelas mãos
  De manteiga,
  Guarda-o meio amassado
  Pra virar de enfeite
  Numa prateleira
  Qualquer da sala
  Ou da dispensa,
  Que fica perto do lavabo.

  O meu lar por mais solitário
  Que pareça é um bom abrigo.
  É um porto-seguro
  Que eu sempre procuro.
  Entre a esquina da porta do meu banheiro
  E do corredor que fica na suíte,
  Me recordo
  Das vezes que você fazia pirraça
  E com mangas arregaçadas,
  Shorts curtos
  Mostrando pernas rápidas
  E bem torneadas,
  Pegava pincel e gauche
  E pintava a parede do banheiro,
  O chão,
  Só pra me chamar a atenção.
  O que me dava vontade
  De sair nalguma loja de brinquedos
  Infantis
  E comprar-lhe uma Barbie.
  Te mostrando que nem sempre
  É com aquarela que se precisa
  Pra despertar a libido.
  Bonecas sem roupa
  Mexem com nossa imaginação também.
 
  Tanta imaginação de sobra,
  Tanta informação que vem desse mundo,
  Dessa vida,
  Dessa repercussão desrespeitosa
  Carregada de rancor,
  Carregada de um belo terceiro round,
  Sem protetores de boca,
  Só luva e um punhado de coragem,
  Chamando a sua irmã daqueles palavrões
  Chulos,
  Botando seu sangue pra ferver,
  Mexendo com sua masculinidade,
  Como se ela tivesse sendo tragada
  Do seu recipiente original
  E um agiota a vendesse num leilão
  Qualquer do centro da cidade.

  Já se sentiu assim?
  Eu já.
  A impotência,
  A falta de segurança,
  Os constantes arrastões que fazem em seus lares,
  Não mexem com vocês?

  Mas sou bonito,
  Meu espelho reduz-me a beleza original,
  Meus olhos brilham sinceramente
  Por entre o reflexo dessa lâmpada.

  Os circuitos
  Não entram em curto,
  Nem a blackout
  Nessa mente sã.
  Sei me defender bem.
  Mas a vida é um gigante
  De seus 2 metros
  E ela gosta
  De te tratar bem pra depois te ver na lona,
  Te esquadrinhar,
  Rever suas habilidades num milésimo de segundo,
  Fazer o tira-teima,
  Mostrar seus defeitos,
  Seus movimentos de pés tortos,
  Sem balanço enérgico,
  Ela tem um bom jab de esquerda
  E eu destro que sou
  Sempre volto
  Com os maxilares doendo pra casa.
  É uma surra e tanto achar
  Que dá pra derrotar o saco de peso.

  Tolice pura.
  Pura enganação.
  Coisa de biruta.

  Mas sovado
  Depois de um dia que fui
  Bem espancado por ela,
  Me dá uma sensação
  Já na minha cama
  De esquecimento.

  Cumpri a minha parte,
  Enfrentei o gigante.
  O Colosso de Rodes
  Que ficava lá parado,
  Mas que no mais puro assalto,
  Lhe prega uma emboscada
  E te deixa a seus pés
  Fazendo com que você bata
  As mãos no ringue
  E peça desistência pro juiz.
  Não desistência
  De covarde,
  Que é W.O.
  Mas daquelas belas batalhas
  Que algum aficionado
  Por lutas de pugilistas
  Quer ver chegar até o 12º round.

  Papo sério.
  Coisa de homem.
  Que encara de peito aberto
  A dura realidade
  E recebe com honestidade
  O seu quinhão.
 
  E eu que nem completei
  Meus 21 anos
  Já sei dessa falação
  Toda de cor e salteado,
  Que está impregnada
  Por entre as ruas e muros pixados
  Das travessas mal-iluminadas
  E das paredes das repartições,
  Dos edifícios que só autorizam
  A entrada mediante
  Inspeção,
  Das universidades
  E é claro
  Dos tribunais
  Com suas insondáveis
  Nomenclaturas.

  Sei toda essa baboseira reiterante
  De cor e salteado.

  Ninguém recluso
  E sozinho como eu
  Que só tem a responsabilidade
  De se formar
  E honrar com as dívidas
  Que a rápida emancipação
  Produz,
  Quer impugnar
  A essa gritante dívida
  Que estamos prolongando
  Cada vez mais e mais
  Com o seio dessa fértil terra.

  Agora aguenta,
  Segura as pontas
  Marinheiro de 1º viagem.

  É de se envelhecer a alma assim.

  Eu sei que toda a gratidão
  Que emana carinhosamente da minha alma
  E cala cada palavra de revolta de menino,
  Vai deixar cicatrizes
  Que estancarão
  Esse sangramento
  Causado
  Por esta falsa disritmia
  Que insiste em se manifestar
  Em cada visão que tenho
  Uma hemorragia emocional.
  Dessa fonte não sai mais nada
  Que vá ferir o sentimento de ninguém.
  Não sou do tipo que machuca.
  Mas agora me dá licença
  Tenho sono e esqueci a porta aberta.
  Vou fecha-la.
  Passar o trinco e assobiar
  Coisa que raramente faço,
  A música que meu pai
  Um dia quis que eu lhe cantasse.

  Vou dormir pra espantar
  A insônia
  E sobre o que aprendi hoje
  Com quem rema do
  Lado contrário do meu,
  Só me resta mesmo
  É o esquecimento.

Dia do Sol e de Suas Chamas

                                                "Pelo menos você se eternizou em mim"


  Ó dia do sol e de suas chamas,
  Puras como o fogo do alquimista,
  Mar azul, céu azul em conquista,
  Na areia eternizei-me aonde andas;


  Risadas e os corações tão alegres,
  Onde nossos espíritos voaram,
  Ascendidos ao céu se resgataram
  E mergulharam no mar livres;


  Ó dia do sol e de seu abraço morno
  Esquentando seu nome incomum,
  Dias passam lentos um a um,
  Mas você já não tem mais retorno.

Eu Não Ouso Dizer

  Eu não falo, não traço nem respiro teu nome;
  Não há aflição no som, nem há culpa renome;
  Mas a lágrima que me arde o rosto pode transmitir,
  Os pensamentos da mi'alma hão de repercutir,
  Tão breve a nossa paixão, tão longa p'ra nossa paz,
  Algumas horas- bastante p'ra alegria não ser fugaz,
  Nos arrependemos, abjuramos, rompemos a corrente,-
  Distanciamo-nos, mas tão logo uni-la novamente!
  Ó teu ser descansa alegre e o meu está em vigília culpa,
  O que Eu ocasionei só me faz querer te pedir desculpa,
  Perdoe-me, adoro-a!- Renuncie-me se tu quiseres;
  Mas teu coração se expirará antes de me teres,
  E o homem não deve romper- o que tu quer fazê-lo,
  Rígido p'ra altivez, tampouco servirá p'ra unifica-lo,
  O que nessa alma dorme a mais escuridão amarga será;
  É o dia que passa rápido e momento doce algum haverá,
  Contigo ao teu lado, o mundo parece estar aos nossos pés,
  Um suspiro de tua tristeza, ou um olhar de amor ao invés,
  Deve ser o bastante p'ra me corrigir ou me reprovar,
  E insensível poderá admirar aquilo pela qual Eu renuncio-
  Teus lábios hão de responder, tirando-me deste vazio.

Entrega Outonal

  Seu olhar me diz, tão claro e pueril,
  “Querido, por acaso Eu te excito?”
  - Linda! Sinto-me tão satisfeito,
  Com tudo, além de admirar seu flébil.

  Você quer me mostrar seu lado virginal,
  Impulso que incita a um doce descanso,
  Como numa lenda o encontro é o anso.
  Estimo nossa paixão por ser ela infantil.

  Amemo-nos somente em nosso refúgio,
  Caloroso, generoso, entesa o nosso efúgio.
  Sei da resplandecência do Amor natural:

  Paixão, querer e desejo- Mi'Azaléia!
  Serás minha, como sou teu, sol outonal,
  Ó divina amante, u'a dádiva que alteia.

A Chuva de Verão

  Meus livros desejei concluir, não os pude ler,
  Muda a cada página meu pensamento distraído,
  Para o prado, onde é belo o desejo do saber,
  E não importa a Targe cair ao chão do socorrido.


  Plutarco era bom, e por isso Homer foi também,
  A vida de Shakespeare seria rica novamente,
  O que li de Plutarco, era apenas mero desdém,
  De Shakespeare também, livros de teor indolente.


  Aqui, enquanto me deito debaixo da nogueira,
  O que importa dos gregos de Esparta ou à Troia,
  Se as reais batalhas são promulgadas hoje agora,  
  Entre as formigas no hummock à cata da coroa?


  Homer deve esperar 'té que Eu aprenda a questão,
  Se ao vermelho ou ao preto os deuses preferem,
  Ou lá ia Ajax com sua falange diante da invasão,
  Ganhando espaço na luta sem a nada temerem.


  Diga a Shakespeare p'ra ter algumas horas de lazer,
  Por que agora tenho negócios com a gota de orvalho,
  Mas você não vê, as nuvens carregadas a me esconder;
  Dos raios, tão logo da chuva morna tomarei um banho.


  Essa cama no gramado feita de flocos espalhados,
  No ano passado arrumada melhor do que dum soberano,
  Marcelas ou trevos, ajeito a cabeça e os pés inclinados,
  O travesseiro a agradar a visão mais bela a cada ano.


  E agora as nuvens carregadas se fecham cordialmente,
  E gentilmente sopram o vento p'ra dizer “está tudo bem”,
  As gotas espalhadas caem no meu rosto rapidamente,
  Outras tocam o lago, outras alguma flor ainda virgem.
  
  Estou bem molhado na minha modesta cama de aveia;
  Mas veja que o mundo vem girando 'té aquele caule,
  Agora como um planeta solitário lá ele ousa e flutua,
  E agora deitado vejo-o afundar 'té meu olhar pelo vale.


  Pinga e pinga das árvores p'ra todos países chuvosos,
  A riqueza rara da chuva que é destilada em cada ramo;
  O vento sozinho faz todos os sons em ritmos sinuosos,
  Mexendo nos cristais pelas folhas como um bálsamo.


  Que vergonha o sol nunca querer se mostrar sozinho,
  Que não poderia com seus raios ser tão esquentado;
  Meus cabelos pingando- tornando um Elfo a caminho,
  Pouco falta, indo feliz por que tive um dia consagrado.