terça-feira, 5 de julho de 2011

O Salmo do Heroísmo



  Eu sei,
  Sim eu sei,
  Sei do que realmente se passa contigo,
  Pois eu também
  Passo o mesmo.


  Sei da sua necessidade de ser lido,
  Sei da sua necessidade de ser reconhecido,
  Da necessidade de ser lembrado,
  Da necessidade de ser cultivado,
  Da necessidade de se fazer ouvido,
  Da necessidade de se fazer amado,
  A necessidade que nos comove,
  A necessidade que nos choca,
  A necessidade que nos tira do atrito
  Áspero entre o chão e a realidade da vida.
  A necessidade de ficar orgulhoso
  Toda vez que uma mão amiga
  E uma voz sábia
  Lhe cumprimenta com um sorriso
  E um novo aprendizado.
  A necessidade de se mudar algo,
  Mesmo que em si mesmo,
  Passando através do outro
  E retornando imaculado 
  Como sempre foi
  A sua fonte original.
  A tão gentil e pueril
  Necessidade de se prestar o bem.
  De repartir o bem,
  De cultivar o bem,
  De sondar o âmago do outro
  E traduzir fielmente
  Por entre braçadas vigorosas
  No mar de emoções
  O que está dragado
  Lá embaixo
  No abissal de todos nós.


  Sei que a principal função 
  Dessa dinastia mercantilista
  É fazer um holocausto
  Com os nossos sentimentos.


  Às vezes nos sentimos
  Como o gado
  Num comboio
  Desses seres vis
  Que nos tratam com o ferrete,
  Causando-nos chagas profundas,
  Nos martirizando profundamente
  Por entre nossos sonhos
  De sairmos deste pasto mesquinho
  Ganhado à troco 
  De atravessar esse lamaçal
  Repleto de criaturas invejosas,
  Que nadam, mordem, estraçalham
  Nossa frágil carcaça sentimental.
  Só queremos ser pássaros livres
  Por este céu, mesmo que o dia
  Esteja plúmbeo, 
  Sabemos que ele é índigo
  Por natureza
  E alçarmos vôo como
  Jovens águias em busca
  Do primeiro alimento
  Ganhado com o nosso próprio esforço.


  Então vamos sair,
  Tendo em mente
  O salmo que nos refrigera,
  Que nos revigora,
  Que nos dá a plena convicção
  Que podemos sair desta caverna escura
  E lutarmos
  Contra as feras.


  Então vamos,
  Eu tomo a dianteira
  E você cuida da retaguarda,
  Cuidado com suas investidas
  De seu suborno,
  De sua corrupção,
  De sua esquizofrenia,
  De sua psicopatia,
  De sua não-sei-quantas 
  Loucuras.
  Não deixemos
  Que elas nos machuquem,
  Elas que só visam 
  Nossos músculos sadios,
  Querendo nos infectar
  Com qualquer ardil 
  Que possa
  Nos tirar do embate
  Cara-a-cara
  E corpo-a-corpo
  Com a vida.


  Ela que esconde tanta beleza,
  Tanta sabedoria,
  Tanto poder
  De nos deixar aos seus pés,
  Mas por livre e espontânea vontade.
  Por que reconhecemos
  Humildemente
  A sua benevolência para conosco,
  Reconhecemos
  Amavelmente
  Os frutos das quais ela irá
  Frutificar aos nossos olhos.


  Podemos fazer algo então,
  Interrogaremos este monstro,
  Interroguemos o por que dele nos tratar assim,
  Interroguemos o por que dele ser assim,
  O por que dele querer sempre se sobrepujar,
  O por que dele sempre se fazer de vítima quando vê que vai ser derrotado,
  Pedindo clemência qual figura hipócrita à mercê do vitorioso.
  O por que dele ter tanta inveja,
  O por que dele não querer dividir algo bom conosco?
  O por que de sempre retirar a mão quando precisamos de um aperto caloroso,
  O por que dele nunca nos olhar diretamente nos olhos?
  O por que de sempre esquivar o olhar quando vê que vai ser queimado
  Nas cinzas e não irá renascer em mais peito algum que conseguimos
  Edificar uma palavra de esperança e compaixão?
  O por que de sua vivência ser manchada por tragédias da maledicência.
  O por que dele querer que tudo seja tão maquiado, automatizado,
  Robotizado, perfeito dentro de moldes, nos apertando
  Nos asfixiando,
  Nos estufando
  Nestes moldes
  Pelas quais
  Não temos necessidade
  Alguma de sermos aprisionados.
  Enjaulados
  E dopados
  Com seus medicamentos
  Paliativos.


  O que nós queremos mesmo,
  É a vacina,
  É a contravenção,
  É reverter o processo
  Que esse mundinho
  Que mais se assemelha
  A um submundo,
  Tenta nos corromper,
  Nos difamar,
  Nos execrar.


  O que mais me vem a cabeça,
  À sua e na milhares de jovens,
  Que também cantam
  Este salmo,
  Que também choram baixinho
  As palavras deste salmo,
  É fazer mudança,
  Fazer tumulto organizado,
  Desatar os nós dessa baixaria,
  Pegar balde e sabão
  E limparmos essa rua banhada de sangue
  Glorificada pela sola de algum
  Banqueiro corrupto.


  Queimarmos esse código obsoleto
  De que tudo está-bom-do-jeito-que-tá,
  Uma-mudança-de-cada-vez-mas-sem-apertar-meu-calo
  Seu burguesinho
  Metido a sonhador.


  Eu digo,
  Eu vos digo,
  Não somos apenas sonhadores,
  Somos desbravadores,
  Somos aqueles que irão reconquistar 
  O paraíso perdido.


  Iremos botar ordem nesse palanque
  Social.
  Iremos dar cabo, lição de moral
  E tudo o que tivermos ao nosso alcance
  Para tirar desse pedestal de arrogância
  Os pregadores que não querem sair.


  Vamos pegar martelo e chave-de-fenda
  E desconstruir essa máquina repudiável,
  Vamos atear fogo aos projetos megalomaníacos
  De manipulação em massa.
  
  Vamos ser os olhos 
  Os ouvidos e a boca
  Com fome de mudança
  Daqueles idosos
  Que mal conseguem
  Comer, ver e ouvir
  O que há tanto tempo
  Esperam ver, ouvir
  Ou que o sabor da comida
  Venha ter um realce 
  De verdade.
  De comida que pode ser comida
  Sem perigo
  De não faltar o que comer amanhã,
  Do dinheiro que a custo
  Conseguiram em suas vidas
  Possa ser revertido 
  Para sua saúde,
  Para os estudos daqueles que amam
  E querem ver subir na tribuna
  E recitar orgulhosamente
  Que se não fossem por eles;
  Pais, avós, tios
  Não estariam ali.
  O diploma reverberar e resplandecer
  Em seus olhos
  Mais uma vez o brilho
  Do orgulho meritório.
  O lazer que merecem ter,
  Uma viagem quem sabe
  Por algum canto inusitado
  E quente do nosso país mesmo.


  Precisamos nos dar esse desconto,
  Não temos mais dívida nenhuma
  Com quem quer seja,
  Já quitamos e temos saldo positivo
  Para o resto da eternidade.


  Como Ele já dizia.
  Seja remido os seus pecados
  E assim foram.
  
  Como a verdade búdica
  Ensina sobre a ilusão,
  Extinguindo assim a ilusão.


  Então façamos dessa intensa vontade
  Algo de produtivo,
  Em prol de nossos antepassados,
  De nossa geração
  E principalmente a geração
  Do porvir.


  Aquela que berra carinhosamente
  Em nossas mentes
  Banhadas por suor metafísico,
  Suor filosófico,
  Suor de um dia exaustivo,
  Suor de não ter as mãos
  O pano que sugue aquela depressão.


  Mas você e eu
  Sabemos que é um suor 
  Que tende a evaporar
  Dando lugar ao simples suor,
  Apenas por sabermos
  Da verdade
  Que nos inunda
  Como numa sauna quente.


  Devemos então pela última vez
  Rejeitar essa máquina que eles 
  Nos oferecem à troco de nada,
  Que está em pane,
  Que está desengonçada,
  Que está fazendo palhaçada.
  Que está nos tirando do sério.
  Fala sério!


  O que faremos com isso afinal?
  Você leva para o hangar 
  Enquanto Eu sei aonde está
  Os instrumentos que realmente nos
  Servirão de alguma serventia.


  Papel e caneta,
  Ou qualquer aparelho
  Que deixe-me expressar
  O que sinto,
  O que você sente,
  O que nós sentimos.


  Quero poder ver
  A mulher que você ama,
  Quero que veja a minha também,
  Como ela me deixa nervoso
  Só por estar ao lado dela,
  Como é sutil
  A sua beleza.
  Como parece que sempre 
  Que me deparo com ela,
  Vejo um brilho tão lindo
  Em seu olhar.
  Você vê o mesmo na sua,
  Não é?
  Somos poetas e sabemos
  Amar.
  Temos duas coisas tão lindas
  Em mãos.


  Então como irmãos,
  Não decepcionemos
  A chance que a vida nos dá,
  Caminhemos
  Frente ao mais duro incêndio
  E resgatemos os feridos
  E oprimidos
  Deste edifício
  Sustentado não sei por quantas
  Vigas já enferrujadas,
  Já apodrecidas, repletas de tétano,
  Sulfurosas.
  Infecundas.
  E já não tão seguras de si.


  Depois que haja o desmoronamento
  Natural que todas as coisas
  Que não se multiplicam
  Em nossos corações, em nossas visões,
  Se encarregando assim
  Do lugar virar um campo
  Sereno e que bate uma leve brisa outonal
  E nalgum cantinho
  Qualquer ter uma lápide
  Pra todos aqueles que não conseguiram se salvar,
  Estar inscrito um epiteto:
  ''Descansem em paz
  E a aonde estiverem
  Orem por nós
  Que aqui estão
  Lutando bravamente,
  Pois somos
  Homens comuns
  Que se assemelham
  A heróis em suas glórias
  Duma vida vivenciada
  E não numa benesse estática.
  Amém!''




  

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