para os dois poetas. Com a mão ele tenta se esconder
a cena tão apavorante. A boca de um castigado
mastiga com a fúria que resta em sua alma. Outro
cadavérico como o gelo bóia rente ao barco dos dois
viajantes. Dedos de um torturado tocam o umbigo
de uma infeliz criatura. O poeta destemido interpreta
essa lamuriante cena com a frieza de costume, como
já sendo do mesmo mundo, mas com poucas surpresas
terrificantes. Sua mão firme tenta passar calma ao
poeta assustado. Relembra-o que ele só está de
passagem pelo lugar e que se tiver fé, irá passar
incólume dessa atroz região. Mas como não estremecer
de aflição quando se vê um corpo se contorcendo
por aquelas águas do rio maldito? Esse pesadelo
de cadáveres possuídos nada mais são, do que uma
penitência sem-fim. Sequer podem possuir andrajos.
Os peitos da penitente murcharam a tamanho suplício.
As ondas sepultam os sonhos de esperança dos
infelizes prisioneiros do rio. Todos ali refletem a
mais pura miséria de fé. Nenhuma prece é atendida
por entre as sufocantes águas negras. As coxas do
poeta abalam os movimentos para um mínimo de
segurança mental. O sacrifício do âmago é exposto
cruamente ante os olhos prescrutadores do poeta
intrépido, que mais uma vez adverte o seu
companheiro de que tudo aquilo deve servir de
aprendizado. A sua túnica negra contrasta com a
do céu rubro que a muito deixara e repensa sobre
o que está vivenciando até então. A barca segue,
com as remadas de Caronte, impassível ao músculo
que tenta se apoiar no barco como um sinal de saída.
Ante a tamanho sortilégio do destino, o pânico do
poeta é diminuído conforme o tempo que passa
sobre aquelas paragens, mas continua a ele o
sofrimento visual. Vendo isto o seu guia
diz palavras sábias para encoraja-lo.
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