segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Faces da Rua


Eles mentem, os homens que nos dizem em um alto tom
[decisivo,
que queremos aqui um estranho, e uma miséria
[desconhecida,
para onde o mais próximo subúrbio e a cidade propriamente
dita atender,
O peitoril da minha janela está no mesmo nível
das
faces da rua,-
à deriva do passado, à deriva do passado,
P'ra batida dos pés cansados,
Enquanto entristeço-me pelos donos
dessas
faces da rua.

E por que Eu fico triste, numa terra jovem e justa,
p'ra ver sobre aquelas caras estampadas o Desejo
[e a Preocupação,
Eu olho em vão tentando encontrar vestígios da doçura
[e uma doce palidez;
mas as faces estão afundadas à deriva pelas ruas,-
em diante à deriva, à deriva em diante,
ao raspar de pés inquietos;
Eu entristeço-me pelos donos
das
faces da rua.

Em horas antes do amanhecer escurece a luz das estrelas
[no céu,
os rostos cansados e lívidos começam a passar aos poucos,
aumentando a medida nos momentos de pressa;
com seus pés pela manhã,
até como o fluxo do rio pálido são
as
faces da rua,
fluindo, fluindo;
com a batida de pés apressados,
ah! Eu entristeço-me pelos donos
dessas
faces da rua.

O ser humano diminui o seu fluxo após às oito horas
[da noite,
suas ondas indo fluir mais rapidamente no medo
de ser tarde;
mas lentamente arrasta-se os momentos,
enquanto sob a poeira e o calor,
a cidade mói os proprietários
das
faces da rua,
corpo de moagem, a alma da moagem,
rendendo escassamente o suficiente para comer,-
Oh! Eu fiquei triste pelos donos
das
faces da rua.


E depois os rostos apenas até o sol estão afundando,-
são de trabalhadores de longe e os desocupados
[da cidade,
salvo aqui e ali um rosto que aparece estranho
na rua,
fala de desempregados da cidade em cima
de suas batidas cansadas,
deriva à volta, volta à deriva,
Para o piso dos pés inescutáveis,-
Ah! Meu coração dói pelos donos
das
faces da rua.

E quando as horas já de pé arrastam-se
lentamente,
e a luz amarela e doentia do poste
zomba da origem do dia que se foi,
então flui pela minha janela como uma maré
em seu retiro,
mais uma vez Eu vejo o fluxo de rostos
pálidos na rua-
a vazante acontece, acontece a vazante,
ao arrastar os pés cansados,
enquanto o meu coração está doendo
estupidamente pelos rostos
das
pessoas da rua.

E agora tudo está borrado e manchado,
como o constringir da última página
[de um dia triste,
por enquanto a curta "grande hora"
está na direção das pequenas horas
da tendência,
com sorrisos que zombam do utente,
e com palavras que imploram metade,
flores são oferecidas por costume,
na esquina da rua,-
afunilada;- afunilando-a,
no naufrágio atingido pela batida d'uma
tempestade remota,-
um comércio terrível, e ingrato é o dela,
mas que mulher corajosa é essa
da
rua.

Mas, ah! As coisas que amedrontam
nossa justa cidade vem,
no seu coração 'stá crescendo
em espessura nas cavernas imundas
[e nas favelas,
onde formas humanas devem apodrecer
em chiqueiros de porcos imprestáveis,
e os rostos fantasmagóricos devem ser
vistos em qualquer paradeiro d'uma rua,-
coisa podre regurgitada, coisa regurgitada...
para falta de ar e carne,-
em antros de vício e horror que 'stão
escondidos
nas ruas.

Eu me pergunto se a apatia dos ricos
suportam
afora de todas as suas janelas no mesmo
nível dos rostos dos pobres?
Ah! Escravos de Mammon, seus joelhos
devem tremer,
seus corações tremer de horror,
quando Deus exige uma razão para as dores
da rua,
as coisas erradas e as coisas ruins
que encontramos
pela viela suja e gosmenta,
e na rua,
um cruel sem coração.

Eu deixei o canto terrível
aonde os passos ainda não aconteceram,
e procurei outra janela
com uma vista pro desfiladeiro e para morte,
mas quando a noite chegou triste
junto com a chuva e o granizo,
isso me assombrou tanto- as sombras
destes rostos
da rua,
esvoaçando num voo,
esvoaçando silenciosos em suas pisadas,
e com as bochechas um pouco mais alvas
do que as reais qu'encontro na rua.

U'a vez Eu chorei "Oh! Deus Todo-Poderoso,
Teu Poder ainda se deve suportar,
agora me mostre em uma visão pros males
da Terra
uma cura!"
E eis, com todas lojas fechadas
Eu vi uma rua da cidade,
e na distância do presságio,
ouvi um vagabundo correndo,
aproximando-se, chegando perto,
para se bater um tambor irritante
se está distante,
e logo vi que o exército é que estava
marchando pela rua.

E como um rio inundado
que num jato torrencial inunda
tudo o que vê pela frente,
a inundação humana veio derramando
com as suas bandeiras vermelhas
sobre todos,
e todos os olhos brilhantes
se acenderam todas as chamas
pelo calor da revolução,
e piscando espadas faziam se refletir
as faces rígidas das ruas,
derramando, derramando nelas,
o som dos tambores que as ameaçavam,
e os hinos da guerra e os aplausos
do povo nas ruas.

E assim deve ser, enquanto o mundo
vai girando e seguindo seu curso,
a caneta da advertência continua
a escrever em vão,
e a voz da advertência a ficar rouca
toda vez que eleva um pouco mais
a sua fala,
mas não até que uma cidade
se ajoelhe aos pés
da Revolução Vermelha,
e seu povo ficar triste ao perder
tempo com os terrores na rua,-
a luta terrível e eterna,
para roupa mal vestida e a carne
jogada na via confinada
na morte da vida-
numa rua cruel da cidade.

Auto-confiança


Confio em você,
Pois aloja-se em meu peito,
O amor & a esperança.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Além da Vida


Tire o capuz de seu rosto, e ao se descobrir
Inicialmente o pior do cadáver está por vir.

Como ele mente nos direitos dum homem!
A morte tudo pode naqueles que a consomem,
E absorvido na nova vida que a conduz,
Ele não se importa, sem cautela se reduz,
Nem seu erro nem minha vingança, estarrecidas
Ambas no sentido de terem sido reconhecidas,
E se perdem na solene e estranha
Surpresa da mudança.
Há muito proveito no apagar da morte,
Sua ofensa, minha desgraça sorte?
Eu seria como garoto que éramos naqueles anos,
Pelo campo, nas dobras entre sadios enganos,
Sua afronta, a paciência divina, o desprezo humano
Foram tão facilmente carregados p'ra outro plano.

Eu estou aqui e agora, ele está em seu lugar devido:
Cubra finalmente o seu rosto translúcido!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Amores do Verão




À minha linda abelhinha”



Nós fomos para o verão, pro verão que chega,
As sebes cheias de flores como numa bela entrega,
E o pardal sobre o carvalho edificando seu ninho,
E o amor brilhando no cristal com todo meu carinho,
Ela se senta com cabelos entrelaçados debaixo da acácia,
E Eu vou junto à ela com afetuosidade sentir sua carícia,
Eu vou olhar pro rosto dela, descansando em sua beleza,
E colocarei o meu cansaço em seu peito cheio de pureza,
Sendo Eu seu amado amante contemplando a luz do verão,
Enquanto acaricia-me com suas unhas quentes em gratidão.

O tempo ensolarado chega sobre a aberta flor-de-maio;
A abelha toda alegre pisoteando as rosas em seu ofício,
E o tentilhão meditando no seu ninho acinzentado,
Por entre os arbustos que Eu contigo, ficava deslumbrado,
Eu apoiado em seu peito e sussurrando em seu ouvido,
Que não quero dormir sem uma piscada ou um gemido;
Que tenho louca vontade, de retê-la em meu pensamento
Duma forma que ele renasça novamente no nascimento;
Diariamente como a fome natural que nasce no dia-a-dia
E só se satisfaz como a rosa alimentada no calor do dia.


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Canto à Minha Ave Negra




Num mar de sangue, se vê os destroços
Boiando inertes, diante d'ave vindoura,
Percorrendo os umbrais pelos escombros.
Num voo tétrico, numa rapidez futura.

Jamais se vira presa de aflição, estende
Pelos céus um ganir — cortaram teu canto!
Feito cão farejando o dono, e no alpendre
Pousa o seu esqueleto cansado e imoto.

De seu sobrevoo imperial, só há perdição!
Tão gentil ao abrir as asas, ei-la terrifica...
Chega-lhe o acre cheiro da deterioração,
Encostada ao cadáver que nada significa.

A nossa alma é semelhante a ave negra,
Corrompidas pela pua, a espetar audazes,
Os céus de exílio, dormentes pela legra,
Cirurgiando as asas rotas, agora ineficazes.

À Sós Com o Desespero


Ao anoitecer Eu m'encontrei num pântano,
Que a visão poderia sustentar a escassez:
A pobre terra negra, traça corajosa o contorno,
Era intratável com as dores.

Esta é a cena, como a minha vida”, Eu disse
É u'a das trevas que se deve tolerar”;
Enfraquecida pelo destino da qual sentisse
Sem luz alguma à procurar.

Num relance olhei, o prazer capturado
P'ra ver o contraste lá;
A nuvem no lance sombrio e carregado,
Penso que “consolo algum há”.

Então numa auto-recriminação, Eu imaginei
Estar lidando silenciosamente
Com u'a perversa, e na qual cobicei;
(U'a) sem graça rebelião agonizante.

Contra a roda que ofusca o horizonte
Sem discernir a forma, cheia de bolor,
Aquilo era horrível, desamparado na ponte
Senti apodrecer a fé ante ao temor.

'Té um ponto morto, a mentira foi pela luz
P'ra sombras!” resmungou a Coisa,
Não, se puder olhar pro alto!” E me pus
Replicando na intenção duma nova pesquisa.

Claro- mas espere um pouco, gritou Ele-
Olhe no ar agora e veja!”
Olhei. Se sentou diante da noite daquele
Jeito efêmero. Depois se foi com inveja. 

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Onde Minh'alma É Feliz


Meu amado irmão
Pense com afeição
Já que estarei, em romagem,
Conhecendo alegre,
Conhecendo-me acre
No recanto que tem tua imagem!
As nuvens aveludadas
Pelas gotas suavizadas
São da chuva que tanto procuro
Calado e perseverante
Apenas compreendendo
Ainda magoado meu eu obscuro.

Mas lá, reina a calmaria,
Paz, em repleta harmonia.

Os relicários perdidos,
Foram mal empregados,
Pois resguardariam a pureza;
As águas bentas cuspidas
Pelas bocas intumescidas
Forma uma poça de tal vileza.

Cúpulas em excelso,
Afastam o teu amuo,
Provindas dalgum oriente,
Resvala-me a alma
Pelo ermo que ama
Deste doce Éden indolente.

Mas lá, reina a calmaria,
Paz, em repleta harmonia.

Vê sobre os juncais,
À ofertar esponsais
A vida que te ama eternamente;
Enquanto atendem
Seu anso também,
Se acaso o fim for precocemente.
Das frias catedrais,
Soam sons guturais,
Vertendo orações, pela cidade,
E em sua aura comove;
O mundo que se move,
Silente ou não pela rivalidade.

Mas lá, reina a calmaria,
Paz, em repleta harmonia.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Balada do Zéfiro



Eu escondi meu coração num ninho de rosas,
Longe do brilho do sol, tão bem escondido,
Numa cama macia, tanto quanto as silenciosas
Rosas sob a neve do meu coração protegido.
Por que ele não dorme? Porque deveria iniciar,
Quando nenhuma roseira tivesse-o esquecido?
O que o fez dormir ao vibrar suas asas devagar?
Apenas a canção de um pássaro em segredo.

Fico ainda, Eu disse, p'ra que o vento nas dobras,
Leve ao zéfiro o abafo do sol que aponta o dardo,
Fico, porque o vento quente cochila em águas rasas,
E o vento é inquieto como o seu hálito consumido.
Será que ambos provocam feridas ao se desabrochar?
Será que a presa ao ser levada tem seu dom adiado?
Não demonstra nos lábios o seu eólico dispersar?
Apenas a canção de um pássaro em segredo.

O nome desta região esverdeante é como das pérolas,
Jamais escrito por algum viajante enfraquecido,
Na estadia por entre as doces mordidas das frutas,
Que nunca foram vendidas num mercado atulhado.
Os pássaros dos sonhos vagam pelo campo ao revoar,
E dormem na copa ao tom prazeroso pro ouvido,
Note na mata virgem o descanso e o despertar,
Apenas a canção de um pássaro em segredo.


Envoi


No meu mundo dos sonhos que ao me ofertar,-
Fui desperto de um sono na estação do conhecido
E musical verdadeiro amor ou da arte de amar;
Apenas a canção de um pássaro em segredo.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Funeral d'Uma Criança


Através da estrada etérea su'asas no voo instantâneo,
Para a mais pura região do celestial conterrâneo,
A luz ampliada descrevendo seu sistema incontável,
Abaixo dele se vê o todo com sua forma inexorável,
Planetas e planetas executam a rota destinada,
E circulam preenchendo o vazio na vasta camada,
O manto etéreo agora, e agora o céu empíreo,
Num esplendor ascendente, os olhos fitam o fulvo;
Os anjos a veem com tal desconhecido prazer,
Tocam em sua mão macia e a põe num belo mister;-
No sólio- e sorrindo dizem: “p'ra essa morada divina,
O assento dos santos, dos serafins que regem a sina,
Tendo Deus como regente- “Três vezes bem-vinda”
Replica a criança “Graças ao Pai tornou numa rajada”
Triunfante aqui estou dando-Lhe a posse do coração,
Ainda que lá tenha tentando iludir numa tentação,
E ainda sobre as ações do pecado Eu tenha fitado,
E ainda que da terrível tentação houvesse tencionado,
E ainda um chicote para os crimes que Eu sentia,
E a vaidade é que levou a culpa da minha consciência,
Mas, finalmente chegou a minha meta celestial,
Repleta de glória a mi'alma numa expansão magistral”,
Alegre, Ele falou: na roda de querubins exultando,
Bateram su'asas contentes; no céu ressoando,
Diz aos pais, por que este gemido inútil?
Por que se apertava ao seio a pensar no gemido fútil?
Para os pais, diga a eles, o casal triste da canção,
Um mundo mais brilhante e verde a eles pertencerão,
Diga que você irá chorar nas esferas superiores,
Por desejos impensados e pressupostos amores,
Faria a sua felicidade aumentar-lhes a dor existente?
Ou poderia este mundo te receber novamente?
O herdeiro da felicidade, com um ar superior,
Parece que Ele responde com um sorriso confessor,
Tronos e domínios nada podem me tentar lá”
Mas, ainda sim choram, “podemos parar de suspirar já,
E por aqui, ainda não devemos derramar u'a lágrima?
Nossa única esperança, a nossa mais preciosa alma,
Nove meses no ventre passaram p'ra depois morrer,
Amado filho, tantas visões presas na morte ei de ter,
Queria-o em meus braços, e te receber com alegria,
Eu contente o abraçaria em meu peito com energia,
As moscas voam, deixando esta desventurada criança”,
Para além do céu depositem a vossa fé com confiança,
Ascendendo e preparem-se para deixa-lo na herança
Que é rodeada de prazeres sem medida, sem mudança.