terça-feira, 29 de novembro de 2011

Bem Longe das Despedaçadas Lembranças

   


  As ruas a noite são senão tristes resquícios do que foram durante o dia.
  Porém cada qual sente a necessidade de estar em contato com ela, 
para estar invocando o seu demônio particular. Ainda que uns maldigam-no, ele lá está inerte e atento aos mais leves sussurros que sibilam o que ele está faminto por ouvir. E cada negativa forma de expressão é como um aperto nas correntes que o prende rumo ao cadafalso. Energia essa que se aviva na aura e torna-se um mantra da mais pura índole destrutiva.
  Em movimento, sonhamos, na noite, com uma proposta de mudança, viva e imperfeita, tal como a pressa em vê-la realizada o quanto antes.
  E esse ente demoníaco, a mando de nossa percepção repulsiva do mundo, está sempre ali, e se materializa ao anoitecer em nossa mente.
  Mudam-se os pensamentos, porém a raiz do mal lá está enraizada, plantada a séculos de distância de nossas débeis mãos.
  A herança maldita de nossos antepassados agora nada mais é do que alcunhada por memética. E cada passo é dado em direção a fonte de sofrimento puro, e esse guardião indolente, tem a chave a as fórmulas para ver acontecer a magia em pleno escurecer.
  Mesmo que uns tentem mudar a direção dos olhos, depois que seus desejos são realizados, para disfarçar tamanha brutalidade de seu ego,
a plenipotência evocativa ali está, para regozijo de tal intermediário.
  Lux in tenebris! E se sente uma paliativa sensação de desconforto no estômago. Mas ainda sim, seu sonho foi realizado — o emprego, a satisfação de estar subindo na vida, enfim realizada.
  E tudo é contemplado a luz noturna.
  "Obscura verdade digo a minha alma, tão fria e silente, refletindo na possibilidade de viver nalgum outro canto não tão obscurecido. Quem sabe ao além do Atlântico. Pradarias florescidas ao contorno de condomínios luxuosos, tão perto do centro e da praticidade cosmopolita, saibas que alguém já te aguarda ansiosa em seu novo lar.  
  Te esperará feliz no aeroporto, recebendo-te em prantos, ó doce alma! Retribuas tal abraço comovente e chore nos braços da tua amada... Ela te levará cuidadosamente e tirará tuas roupas, contemplando ainda a beleza vigorosa de tua forma; pura! Intacta! E o leito será a testemunha dos já não sussurros evocativos, sussurrarás apenas de alívio. 
  Ao amanhecer, saberás que um emprego digno, longe de falsidades e de rivalidades mesquinhas o aguarda. Apenas o merecimento lhe será o condutor de tua trajetória.
  A cada dia de trabalho, um novo aprendizado.
  E teus finais de semana serão joviais e brilhantes no verão. No inverno bastarão apenas o calor dela e de seus familiares, tão belos e gentis como ela.
  Em cada estação, tua casa é bela e bem aquecida.
  E a estação da minha alma, qual será? Ela não responde.
  "Impassível continuo. Ela te espera com a receita preferida tua no colo e o gatinho, pulando insaciável depois de uma dose de carinho.   
  Teu espírito se abrandarás só de estares ao lado dela. Sentes o ritmo dessa repetição extasiante?"
  Nenhum gesto, nem se ouve um murmúrio.
  Por acaso ela teria falecido em meus braços?
  "Chegaste ao ponto de letargia, na qual apenas a dolência lhe suscita um brilho merencório no olhar. Se é assim, corramos daqui, minha querida alma! Escolha o itinerário que mais te agrada. Iremos caso não se decidas a ponto, da criatura rastejante tocar teus pés fragilizados e corromper gangrenando-te, para um local ermo e frio. Iremos rir do frio congelante, apenas eu e você! O Sol irá roçar de vez em quando nossos lábios queimados, pela inóspita temperatura. Ela esfriará teus sórdidos desejos de auto-destruição, que por um atro motivo amalgamou-se em ti. Ainda que reveja em clarões ao amanhecer, a aurora trevática, ocasionada pelas priscas chagas desta vil região que agora residimos, tamparei seus olhos, e com o passar do tempo, se acostumará com o despertar banhado num dourado etéreo."
  Enfim, minha alma jorrando sabiamente as palavras que esperava ouvi-la pronunciar, clamou para mim:
  "Não importa aonde seja! Conquanto que seja longe deste mundo e destas despedaçadas lembranças!"
  E se pôs a rir, o luctífero espectro que de perto nos fitava. 

sábado, 26 de novembro de 2011

Cemitério a Beira-mar





  Orla crespa, banhada pelo inquieto oceano,
  Sempre há de mortificar, das vigas aterradas,
  Sem que haja espaço para o temor diáfano,
  Das sepulturas pondo-se às escondidas...


  Vez ou outra se vê, imagens estendidas,
  Terços beijando os epítetos; entorno...
  Mal sentes da reza das vozes esquecidas,
  Lá sepultadas, a queixa dalgum transtorno.


  São, olvidadas almas, pela nívea escuma,
  Segregando segredos, partilhados na morte,
  E ninguém há de sondar, pois algo se abruma...


  Resta ao familiar, fascinado desde séculos,
  Na necrópole marítima, contemplar o combate,
  Travado pelos aflitos dentro dos túmulos...

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Vertigem Cemiterial



  Não confronto-vos, em tua campa,
  És, sabes bem, soturno e indiferente,
  Olhando quieto, a contar cada etapa;
  Meus passos um tanto perseverantes.

  Fito-te assim, trêmulo e descontente,
  Por que da vida, desconhecido mapa,
  Causa-me náusea tatear cegamente,
  Sem saída, pois teu apoio me escapa.

  Ando pelo ruído chão por ti pisado...
  Ciente dos mortos, a fazer companhia,
  A nossos espíritos, incompreendidos.

  Balouça as tristânias, a nós aspérrimas...
  Já não está só, nessa senda solitária,
  A nossas duas almas, tão nigérrimas.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Que Me Perdoem os Fracos de Espírito

  Eu não vejo um poeta como uma máquina de fazer versos.
  Vejo-o como um ser humano, passível, bem sei, de contradições, 
  porém dotado de uma enorme capacidade de versificar o mundo.
  Traduzindo este mundo e doando as palavras de seu dicionário 
  poético, aos que sentem fome de conhecimento.
  É verdade que a fome pode ser um estado, muitas vezes, perigoso, e 
  que requer pra se lidar toda sabedoria da qual se disponha.


                                            * * * 
  Eu não vejo das religiões, nem tampouco das verdades, nelas 
  pregadas como a fonte de minha índole.
  Já ajoelhei em altares católicos, provei de sua hóstia e benzi-me na   
  água fazendo o sinal da cruz.
  Mas em missas, meu corpo estático e dormente, boceja.
  A vida em mim pulsa e meu olhar não é dirigido ao padre.
  Flui de mim, o espanto, a inocência pagã...
  Mas que se enoja por vezes de certos ritos e práticas.
  Já abracei o Pai de Santo, fazendo dele no passe, sentir trêmitos ao 
  realizar o que chamam de descarrego. Não escondo que não pude
  deixar de esboçar um sorriso de vergonha.
  O magnetismo prepondera nas explicações espíritas.
  Douta filosofia. Falta-lhes o preparo. Falta-lhes o diploma carimbado
  da comunidade científica. De resto, achismos e processos, por mais
  empíricos que pareçam ser — são apenas restos, que tendem a se
  decompor e renascerem em mentes mais lúcidas, como ideias à 
  serviço da humanidade.
  Budistas e seus retiros espirituais, repetem entoando pacificamente
  muitas inverdades em sutras & mantras.
  Porém um preceito sábio, pela qual sigo, é o do corpo ser um templo.
  Que deve ser limpo diariamente ao raiar do dia.
  O meu despertar, é o alvorecer duma nova vida renascida.
  Poeticamente falando, — alvorecer d'esperança.


  Eu não acho que deva existir um motivo pra se acreditar ou não em 
  algo que não mude sua vida(pra melhor).
  O viático é o caminho daqueles que tem arvorado a esperança,
  o desejo do nervosismo e posteriormente d'angústia, chamada
  nesses tempos de depressão.
  Mas não sou católico.
  Nem sou teísta.
  Agnóstico tampouco.
  Nem quero ser chamado de ateu.
  Não defendo nem prepondero inclinações ao ateísmo.
  O que sou?
  Hoje, só hoje. Não importa o que eu seja.
  Deus — caminho definido da Ciência.
  Um dia hão de enterrar-te ou de descobrirem o ataúde que vós estás
  escondido.
  A centelha que habita em nossas almas irá brilhar num clarão— na 
  hora de vossa descoberta, ou quem sabe algum controle remoto há 
  de desliga-las em definitivo.
  Até lá caminho e trabalho...
  Sim! O trabalho, talvez respaldado pelos estudos, seja além da família
  e do sexo, a coisa que realmente seja digna de se conquistar e 
  praticar — pois quando aprimorada estas coisas, o mundo verte 
  aplausos admirados em reconhecimento.
   
                                           * * *
  A criança esquelética que nada o mar de seu continente natal até
  atingir em braçadas de desespero por um prato de comida o outro,
  é recompensada pelo calor e a toalha da turista espantada.
  Por fim, come o que lhe dão pela frente.
  Mordendo os dedos, junto a pedaços esfarelados do alimento.
  É assim a nossa alma em busca de conhecimento.
  Às vezes destroçamos com os dentes, aquilo que era pra ser 
  degustado.
  A poesia...
  Maldito será o dia em que eu destroçar a poesia que vive em mim.
  E que eu jamais esqueça que a Morte, é o que nos aguarda.
  Muitos fazem dela apenas simbologia, criam modas, conceitos 
  absurdos...
  Traduzem-na pela cor preta.
  Mas o anjo que porta a sua chegada vem de branco.
  Interessante dualismo...
  Para combatê-la criaram a criogenia, certos de um dia alcançarem o
  prolongamento vital do corpo humano.
  Enquanto isso, a medicina tem livre aval para realizar seus testes
  em cobaias. Transplantam cérebros em cachorros, vertem, modificam
  artérias, DNA's. Uma série infinda de técnicas alienadas.
  Julgar-te-ão louco. "São apenas testes". Ah! Sim.
  Quando criança os bichos pela qual corria, inocentemente,
  agora são junto ao caldo temperado, comida que se engole.
  Matança, mortandade, morte, morticínio...
  Matança, matança, matança...
  Rumo a um matadouro animais são sacrificados.
  Um holocausto em nome a boa-alimentação.
  Os gourmets agradecem.
  Gera uma cifra considerável a pecuária.
  Matança, matança, matança... 
  Engaja-se na poesia, garoto maquiado — ri o milionário dono
  de frigorífico.
  "E já que és ousado o bastante pra achar que pode mudar o mundo, 
  sem sequer ter formação acadêmica em nutrição, ou cousa que o 
  valha, devolva este seu coturno — é de couro, se esqueceu?
  Ou que espécie de gótico você é pra se rotular vegetariano e usar
  objetos de origem animal?"
  — Não sou gótico. Quanto a maquiagem, foi apenas pra festa à 
  convite da sua filha.
  Saibam que ela morreria de vergonha ao saber o pai que tem.


                                             * * *
  O Amor — fonte responsável por nos preencher e fazer da 
  complacência, transformar-se em reconhecimento mútuo.
  Pois que as pessoas se suportam, seja no ambiente de trabalho,
  em casa, junto as memórias(o que é bem mais difícil de se lidar)
  de algum falecido — por complacência. E esta tende a um dia
  esvanecer.
  Já o Amor, este não. Só se intensifica com o passar do tempo.
  E o reconhecimento verdadeiro é o reflexo de sua existência.
  Com franqueza...
  Abomino muitas coisas.
  Sentimento este que necessito expurgar de dentro de mim.
  Abomino saber que vou envelhecer, a decrepitude é assaz 
  horripilante. O corpo de um ancião me causa náusea.
  Verdade que o convívio com os nossos avôs ajudou-me
  em partes nisso.
  Mas é só uma forma de mostrar como eu sou.
  A beleza há de sempre existir, pois que, quando nascida da nossa
  verdadeira natureza, seja esta exteriorizada como contemplativa
  e totalmente imprópria para ação, no entanto, de uma forma 
  misteriosa e ignorada, age de uma maneira celeremente rápida, da 
  qual ela mesmo não sabia julgar-se capaz.
  É assim com o Amor também, num brilho rápido o vemos.
  Eu vejo no Amor pela minha família, pela mulher que amo, pelos 
  amigos e por tudo aquilo que gosto de fazer.
  Ainda sim...
  Devo praticar pra que eu possa ver sempre em no máximo de coisas
  possíveis esse brilho.
  Às vezes parece isso acontecer.
  Mas tenho a poesia.
  Utilizarei-me dela para atingir este nobre fim.
  Meus olhos hão de brilhar eternamente então.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Compreendendo a Morte

  


  Absorto, langoroso, resvalo na sepultura,
   d'uma campa pétrea e fria...
  Sombreada pela abandonada incompreensão.
   Ali o Amor jaz co'a graça valedoura.
  E eu te entendo, o que o teu silente zéfiro
   quer me dizer, sussurrante...
  Estou fadado há tempos, e eu queria dizer;
   com vigor pressionar-me a estertorar tal abafo;
  impronunciável... incontível...
   Ainda sim, não enerva-me estar nesta lápide,
  sentado, sentindo a tua afável presença,
   e numa união d'almas, lês meus pensamentos,
  sabes d'um jeito ou doutro, que sinto tua Dor.
   O tamanho desta não findou co'a pira funerária,
  apenas amalgamou-se em minha pele lúrida.
   Tua existência, esta que renasce novamente,
  sem tremura, me quedo, a sentir seu contato.
   O gosto amargo na garganta engulo lentamente,
  pois sei que por teu invite, provarei na Morte
   um sabor melhor, que a Vida me privou.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O Bebê Natimorto




  Ainda como feto, exprime a perda,
  Pérfida a espalhar esta indecência,
  Enviando fotos da criança perdida,
  Supõe assim, enganar a sua família.


  Teu útero é estéril; nada se procria,
  Nem do tratamento, em ti se hóspeda...
  Mas deveria saber por experiência,
  A — Verdade — é a única fonte leda.


  Como esconder o frustante fato...
  Sabendo, que a ganância é presente,
  Como um dom, em todos seus atos?


  O vazio, e um coração não batido,
  Provocado pelo logro, degradante...
  D'um findo bebê — jamais nascido. —

sábado, 19 de novembro de 2011

Conspurcação




  Por que conspurcar sua virgindade,
  Se ainda temos muito que nos amar?
  E tantas são as formas de intimidade,
  Tanto do denodo, para a ti devotar.


  O leito arrumado, do edredão a revelar,
  Marcas apaixonadas de tua castidade;
  Intacta — pois apenas quis lhe tocar,
  Serenando o choro d'uma profundidade...


  Meu corpo treme, indo 'té a cabeceira,
  Releio o salmo, sussurrando os versos,
  Enquanto dormes — pela luz clara...


  O abajur, eu apago, e afago a tua mão,
  Guardando na memória — santos textos,
  E peço a Deus, a abençoar nossa união.
  

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Memento Mori

                                                   


                                                        "Agracie-se leitor,
                           com esta pérola encontrada nalgum imundo abisso"


  Felipe Valle
  *05.07.1990
  †...............


  Nasce-se sobre um olhar altiplano,
  E rosas negras pairam insinuantes,
  Suavizando ou irando o morbígeno;
  Desejo dos fracassos resultantes.

  Eu — que sou um mero praticante —
  No caminho, andando entre humanos...
  Tenho das intuitivas vidas prementes;
  Passagem por entre todos terrenos.

  Momentos antes, a Morte por acaso,
  Seria-te degradante. Feita de fel,
  Verbo de última palavra sem atraso.

  Pois a mim — é o que nos une a vida —
  Mensageira fiel desse vasto céu...
  Co'a pedra tumular que vos aguarda.


   Epígrafe:
  "A verdadeira filosofia nada mais é o que estudo da morte."
                                                            - Isaac Newton

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Prostíbulo

  


  Musa venal, amada por mim a noute,
  Chegas calada a por o peso no estrado,
  P'ra mais comigo um serão mal dormido;
  Realizar meu desejo, tirando teu corpete.


  Alijo a camisa, e o paletó todo desbotado,
  E acaricio tua face de luz deslumbrante.
  Estamos à sós no leito por mim aquecido,
  E dou-te em troca u'a quantia insinuante.


  A apetite crua se mistura co'a tristura,
  De fatigares e seres possuída adulando;
  O corpo vigoroso que prova tua frescura;


  Ou um estroina, a saciar-te a diária fome,
  Sugando teu propenso leite, e ocultando;
  A face sombria, e malquista d'um síndrome. 

domingo, 13 de novembro de 2011

Possessão



  Minai a resistência ao corpo perene,
  — Entrego-me ao guia, filho amado.
  Surpreendo-me ao compasso infrene,
  — Tão incerto, o aspecto desfigurado.


  Oferece-me seu abraço e canto ritmado.
  Recuo: — Deixe-a, imploro! E indene
  Lê meu pensamento: "—Sou pois odiado,
  Mas não é sua mãe, e sim um unígene."


  Um elo duplo naquela que me geraste,
  A escuma molda em minha face rendida,
  E o grito do desespero, rui de desgaste.


  Sem piedade, arrojo ao chão agoirento,
  Balbuciando meu ateísmo vão em decaída.
  E a médium: — "A ciência não traz alento!"

Palco da Mentira

  
  
  O que Eu tenho agora a perder?  
  Sendo pessimista, propus mudança;
  Furtivamente fugindo e nem ver;
  — D'história encenada desde criança.


  Quero correr, sem deixar reviver...
  Aquilo pungente A corroer a lembrança!
  Num rogo abafado, torno-te a ver...
  Plácida, ereta: a me inspirar confiança.


  Mas mudam-se os atores, e permaneço.
  Inerte junto as esquálidas recordações...
  Ai! O fardo brota, d'um simples abraço.


  Recuso um falso aperto de mão dela.
  E a mãe das necessidades são provações;
  Encenadas n'agonia, vividas com cautela.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Donde Retiro as Minhas Forças

  Arrojo-me na vida diária, no labor;
  Donde possar dar-me, o manejo...
  Dessa arte embora, Eu veja o vapor;
  Apenas entre a largura d'um lampejo.

  Longe da fortitude — a Morte de sobejo
  Ultrapassa o obstáculo, na faina maior;
  E Eu caminho, sem escutar os motejos.
  Que rufam trechos de negrume e temor.

  — Dores ocultas s'escondem caladas,
  Nesta terra alheia, repleta de ciladas...
  Conluio é o que s'encontra nesta vida.

  Por isso, persevero silente numa prece,
  Co'a cabeça erguida, e a ideia se tece;
  Do alento irresoluto: "À me dar guarida."

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Do Nada o Indigesto se Cria

  Abaixe o seu tom de voz,
  que das bestas mal-paridas,
  e idólatras por sua vez;

  Corrompem-nos como algoz;
  e veremos-nas renascidas.
  A escorrer mágoas no algeroz.

  É assim a vida feita de — Dor —
 
  Tragando o que tentar se impor.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Propenso a Te Amar


Seduzido fui pela tua música,
quantas vezes quis ouvi-la...
Em horas tão sem lógica.

É que Eu andava compungido,
e agora — Eu posso ama-la...
em seu Amor fui convertido.

Nesse desejo a me purificar;

Pois estou propenso a te amar.

Surpresa Entediante




Tenho na surpresa entendiante,
tua presença já inquietante...
a me deixar inseguro e inquieto.

E desse entusiasmo enervante,
teu ser se torna mero figurante;
numa manifestação de ímpeto.

Queria eu bocejar desapercebido...

Mas percebo já estar apaixonado.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Lápide Onde Jazem Meus Sonhos


  Adiante, pelas noutes, medonhas,
  — Já não ensejo, a vaga d'um coval —
  Mesmo no amanhecer, as vicunhas;
  Sejam o pano com seu torcer bestial.


  As traças que por ali retorcidas roerem,
  Tanto meu corpo, quanto as sobras,
  De meu cadáver, hão de todas morrerem.
  Pois é d'um letal legado minhas cinzas.


  E da cabeça que inda, era inocente,
  Nos tempos de cândida ventura... beleza,
  Alegria que de tão bela jorrou dormente;


  Nada mais são agora; simples lembranças,
  Entre a carcaça pútrida e a pulcra rijeza,
  Enterradas co'a alma sem-aventurança.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Obstinação

  Os areais são p'ra mim como u'a fonte,
  De segredos enterrados e instigantes...
  E as vontades que atolam degradantes,
  Também debatem-se negras defronte.


  D'uma movediça sepultura tumultuosa,
  Odeio o retrato que jaz da minh'alma!
  Envolta numa amargura que nem clama;
  Além da risada que sai d'areia pressurosa.


  Pudera acreditar da escuridão soterrada,
  Vindo abraçar-me com toda sua perdição...
  E fazer-me esquecer da paixão declarada.


  Eu te amaria novamente e aterraria o choro,
  A raiva e o espanto, e a imémore realização
  Dessa procura— que s'esvai por cada poro.

Ornamental




Seus frutos, contidos numa estaca,
Ao sabor do cordame o submete —
Ficando colados um a um os tomates,
Como se assim 'tivessem de ressaca.

Procurando abrigo d'antes a saca;
Que trouxera a planta-los as sementes.
E nasceram naquela sala tão somente,
Ornando co'a singela e natural laca.

E apesar do aparente aprisionamento;
Sentem-se livres, porém são frágeis.
E requerem cuidado, a zelar seu fruto.

Como resplandecer então no vitral?
Resta, tecerem intentos maleáveis.
Desde o pericarpo 'té seu sabor carnal.