quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Que Me Perdoem os Fracos de Espírito

  Eu não vejo um poeta como uma máquina de fazer versos.
  Vejo-o como um ser humano, passível, bem sei, de contradições, 
  porém dotado de uma enorme capacidade de versificar o mundo.
  Traduzindo este mundo e doando as palavras de seu dicionário 
  poético, aos que sentem fome de conhecimento.
  É verdade que a fome pode ser um estado, muitas vezes, perigoso, e 
  que requer pra se lidar toda sabedoria da qual se disponha.


                                            * * * 
  Eu não vejo das religiões, nem tampouco das verdades, nelas 
  pregadas como a fonte de minha índole.
  Já ajoelhei em altares católicos, provei de sua hóstia e benzi-me na   
  água fazendo o sinal da cruz.
  Mas em missas, meu corpo estático e dormente, boceja.
  A vida em mim pulsa e meu olhar não é dirigido ao padre.
  Flui de mim, o espanto, a inocência pagã...
  Mas que se enoja por vezes de certos ritos e práticas.
  Já abracei o Pai de Santo, fazendo dele no passe, sentir trêmitos ao 
  realizar o que chamam de descarrego. Não escondo que não pude
  deixar de esboçar um sorriso de vergonha.
  O magnetismo prepondera nas explicações espíritas.
  Douta filosofia. Falta-lhes o preparo. Falta-lhes o diploma carimbado
  da comunidade científica. De resto, achismos e processos, por mais
  empíricos que pareçam ser — são apenas restos, que tendem a se
  decompor e renascerem em mentes mais lúcidas, como ideias à 
  serviço da humanidade.
  Budistas e seus retiros espirituais, repetem entoando pacificamente
  muitas inverdades em sutras & mantras.
  Porém um preceito sábio, pela qual sigo, é o do corpo ser um templo.
  Que deve ser limpo diariamente ao raiar do dia.
  O meu despertar, é o alvorecer duma nova vida renascida.
  Poeticamente falando, — alvorecer d'esperança.


  Eu não acho que deva existir um motivo pra se acreditar ou não em 
  algo que não mude sua vida(pra melhor).
  O viático é o caminho daqueles que tem arvorado a esperança,
  o desejo do nervosismo e posteriormente d'angústia, chamada
  nesses tempos de depressão.
  Mas não sou católico.
  Nem sou teísta.
  Agnóstico tampouco.
  Nem quero ser chamado de ateu.
  Não defendo nem prepondero inclinações ao ateísmo.
  O que sou?
  Hoje, só hoje. Não importa o que eu seja.
  Deus — caminho definido da Ciência.
  Um dia hão de enterrar-te ou de descobrirem o ataúde que vós estás
  escondido.
  A centelha que habita em nossas almas irá brilhar num clarão— na 
  hora de vossa descoberta, ou quem sabe algum controle remoto há 
  de desliga-las em definitivo.
  Até lá caminho e trabalho...
  Sim! O trabalho, talvez respaldado pelos estudos, seja além da família
  e do sexo, a coisa que realmente seja digna de se conquistar e 
  praticar — pois quando aprimorada estas coisas, o mundo verte 
  aplausos admirados em reconhecimento.
   
                                           * * *
  A criança esquelética que nada o mar de seu continente natal até
  atingir em braçadas de desespero por um prato de comida o outro,
  é recompensada pelo calor e a toalha da turista espantada.
  Por fim, come o que lhe dão pela frente.
  Mordendo os dedos, junto a pedaços esfarelados do alimento.
  É assim a nossa alma em busca de conhecimento.
  Às vezes destroçamos com os dentes, aquilo que era pra ser 
  degustado.
  A poesia...
  Maldito será o dia em que eu destroçar a poesia que vive em mim.
  E que eu jamais esqueça que a Morte, é o que nos aguarda.
  Muitos fazem dela apenas simbologia, criam modas, conceitos 
  absurdos...
  Traduzem-na pela cor preta.
  Mas o anjo que porta a sua chegada vem de branco.
  Interessante dualismo...
  Para combatê-la criaram a criogenia, certos de um dia alcançarem o
  prolongamento vital do corpo humano.
  Enquanto isso, a medicina tem livre aval para realizar seus testes
  em cobaias. Transplantam cérebros em cachorros, vertem, modificam
  artérias, DNA's. Uma série infinda de técnicas alienadas.
  Julgar-te-ão louco. "São apenas testes". Ah! Sim.
  Quando criança os bichos pela qual corria, inocentemente,
  agora são junto ao caldo temperado, comida que se engole.
  Matança, mortandade, morte, morticínio...
  Matança, matança, matança...
  Rumo a um matadouro animais são sacrificados.
  Um holocausto em nome a boa-alimentação.
  Os gourmets agradecem.
  Gera uma cifra considerável a pecuária.
  Matança, matança, matança... 
  Engaja-se na poesia, garoto maquiado — ri o milionário dono
  de frigorífico.
  "E já que és ousado o bastante pra achar que pode mudar o mundo, 
  sem sequer ter formação acadêmica em nutrição, ou cousa que o 
  valha, devolva este seu coturno — é de couro, se esqueceu?
  Ou que espécie de gótico você é pra se rotular vegetariano e usar
  objetos de origem animal?"
  — Não sou gótico. Quanto a maquiagem, foi apenas pra festa à 
  convite da sua filha.
  Saibam que ela morreria de vergonha ao saber o pai que tem.


                                             * * *
  O Amor — fonte responsável por nos preencher e fazer da 
  complacência, transformar-se em reconhecimento mútuo.
  Pois que as pessoas se suportam, seja no ambiente de trabalho,
  em casa, junto as memórias(o que é bem mais difícil de se lidar)
  de algum falecido — por complacência. E esta tende a um dia
  esvanecer.
  Já o Amor, este não. Só se intensifica com o passar do tempo.
  E o reconhecimento verdadeiro é o reflexo de sua existência.
  Com franqueza...
  Abomino muitas coisas.
  Sentimento este que necessito expurgar de dentro de mim.
  Abomino saber que vou envelhecer, a decrepitude é assaz 
  horripilante. O corpo de um ancião me causa náusea.
  Verdade que o convívio com os nossos avôs ajudou-me
  em partes nisso.
  Mas é só uma forma de mostrar como eu sou.
  A beleza há de sempre existir, pois que, quando nascida da nossa
  verdadeira natureza, seja esta exteriorizada como contemplativa
  e totalmente imprópria para ação, no entanto, de uma forma 
  misteriosa e ignorada, age de uma maneira celeremente rápida, da 
  qual ela mesmo não sabia julgar-se capaz.
  É assim com o Amor também, num brilho rápido o vemos.
  Eu vejo no Amor pela minha família, pela mulher que amo, pelos 
  amigos e por tudo aquilo que gosto de fazer.
  Ainda sim...
  Devo praticar pra que eu possa ver sempre em no máximo de coisas
  possíveis esse brilho.
  Às vezes parece isso acontecer.
  Mas tenho a poesia.
  Utilizarei-me dela para atingir este nobre fim.
  Meus olhos hão de brilhar eternamente então.

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