quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Canto à Minha Ave Negra




Num mar de sangue, se vê os destroços
Boiando inertes, diante d'ave vindoura,
Percorrendo os umbrais pelos escombros.
Num voo tétrico, numa rapidez futura.

Jamais se vira presa de aflição, estende
Pelos céus um ganir — cortaram teu canto!
Feito cão farejando o dono, e no alpendre
Pousa o seu esqueleto cansado e imoto.

De seu sobrevoo imperial, só há perdição!
Tão gentil ao abrir as asas, ei-la terrifica...
Chega-lhe o acre cheiro da deterioração,
Encostada ao cadáver que nada significa.

A nossa alma é semelhante a ave negra,
Corrompidas pela pua, a espetar audazes,
Os céus de exílio, dormentes pela legra,
Cirurgiando as asas rotas, agora ineficazes.

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