Este é o lugar. Fiquei parado relembrando,
Deixe-me rever a cena
E convocar do meu passado sombrio
O que aconteceu sem nutrir pena.
O passado e o presente se uniram
Abaixo desse tempo fluindo no turbilhão,
Como pegadas escondidas pela praia
Porém vistas nos lados sem apreensão.
Aqui ruma a estrada para a cidade,
Há uma faixa bem esverdeada,
Através da qual eu ia me encontrar contigo,
E ficavas maravilhada!
Na sombra deste pinheiro
Alguns frutos caiam na grama,
Entre nossos abraços e o insinuar dos ramos,
Que sombreavam a nossa cama.
O teu vestido era como os girassóis,
E teu coração brilhava de tão puro,
Acredito que um dos mensageiros de Deus
Andou comigo nesse dia e me senti seguro.
Eu pude ver o ramo das árvores
Curvarem-se ao seu toque dando-lhe fé,
As folhas do trevo na grama
Se levantavam e beijavam-lhe o pé.
“O sono, o sono dos amantes, requer cuidado,
Da terra e sandice nasceu!”
Solenemente entre carícias ouvimos
O pio dos pássaros e algo em mim rejuvenesceu.
Através das persianas o sol dourado
Se derramava no feixe de poeira,
Como a escada celestial vista em sonho
Por Jacó simbolicamente dessa maneira.
E de tempos em tempos, o vento,
Se fazia presente pela casa,
Que construíamos vibrando com ardor
Na paixão que entrava pela entrecasa.
Ao longe se ouvia o sermão dos costumes,
No entanto, à mim não surtia efeito,
Pois falava em precaução e recato,
Ainda sim pensei em ti com respeito.
Mas agora, que pena! O lugar parece diferente,
E você, não estás mais aqui,
Parte daquele resplandecer que eu amava
Não encontrarei mais de quando a vi.
Apesar dos sentimentos, profundamente enraizados
Em meu coração como ciprestes
Negros e altos, subjulgando a luz do meio-dia
Suspirei incessantemente com soluços tristes.
Esta memória iluminou sobre o passado,
Como quando o sol, escondido,
Por trás das nuvens logo acima de nós,
Brilhava como num sonho revivido.
Felipe Valle
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